O LAGARTO

Hoje vi um lagarto, e por tal visão concluí que os tempos estão mudando. Pelo menos os tempos referentes às condições climáticas. Já estamos em setembro, ainda no inverno, porém com um calor próprio de verão.

Fazia alguns meses que eu não via um lagarto. Esses répteis gostam de sol, de muito calor, aparecem sempre durante o verão, tal como as andorinhas, os cobras e as baratas. No inverno, metem-se em tocas e aí ficam três ou quatro meses, dormindo encolhidos.

Os lagartos têm um aspecto grotesco, pelo meu gosto, é claro. E esse que vi, para piorar, estava todo sujo de terra. Provavelmente tinha acabado de sair de algum buraco onde ficou até hoje, sentindo a chegada do verão.

Os animais, por instinto, mudam seus hábitos, saem de uma rotina e vão a outra, de acordo com as estações do ano.

Não é o mesmo que acontece comigo. Preciso viver, trabalhar e lutar para alcançar o que visualizo lá adiante. É uma rotina que não se deixa influenciar pela troca de estações ou mudança de temperatura.

Mas pensando bem, mais do que chateado pela longa hibernação, talvez o lagarto estivesse animado para tomar novamente a sua posição ao sol. Voltou para o lugar que é dele e onde ele sente que será feliz.

Mudar de rotina não deve ser assim tão mau. A gente às vezes vive muito tempo na escuridão, tanto que, ao sair dela, a luz nos ofusca os olhos. Mas esse mal-estar é passageiro, pois é pela luz que encontramos nosso verdadeiro caminho.

Sair do buraco, tomar um ar novo, sentir o vento e o sol... é o que pode fazer alguma diferença.