Em busca da fama
Josivaldo não aceitava o pouco que a vida oferecia. Queria mais. Queria fama e dinheiro. Não era chegado a trabalho, mas sonhava com carros de luxo, comida boa e viagens. Ainda não tinha descoberto em si nenhum talento oculto, mas tentava achar essas qualidades na sua família. A principio buscara na pacata esposa algum dom artístico, mas ela só era boa mesmo em parir. Tiveram cinco filhos. Quatro meninos e uma menina. Desde o berço Josivaldo os investigava. Paulinho o filho mais velho vivia imitando os artistas da televisão. Era bom para decorar texto. Certo de que descobrira ali um grande talento, o pai o levara para fazer testes. Voltou para casa arrastando o filho desanimado. O menino era bom para decorar, mas gaguejava horrivelmente Ficara roxo e quase perdera o folego no intuito de agradar falando correto.
Foi então a vez do Josefrido. Apesar de ter apenas cinco anos, o garoto adorava fazer malabarismo. Treinava o tempo todo com limões, pratos, copos e ate com o gato. Foi levado á um conhecido circo para se apresentar ao proprietário. Josefrido era bom em malabares, mas tímido fora de casa. Ficou nervoso e conseguiu quebrar em poucos minutos uma dúzia de pratos, dez xícaras e três lâmpadas ao jogar limões para o alto. Josivaldo não desistiu. Começou a observar com atenção os gêmeos. Dessa vez nada de precipitação. A princípio acreditou que eles não tinham outro dom além da pirraça, mas uma tarde ouviu os dois falando em inglês enquanto brincavam. Emocionado os arrastou para a agencia. Com bastante má vontade a caça talentos cedeu algum do seu precioso tempo a fim de assistir a exibição. Uma hora depois saiam escorraçados pai e filhos. O que Josivaldo entendera como inglês, era apenas o linguajar enrolado de crianças de dois anos. Restava então a caçulinha. Um bebê de dez meses. O pai passava dia e noite vigiando, analisando a menina, mas não conseguia descobrir nada de talentoso na filha. Decidiu então treinar os filhos. Ele mesmo faria desabrochar o talento. Comprou á prestação para o mais velho, um violão caríssimo. Em uma semana todas as cordas estavam arrebentadas e o instrumento todo rabiscado. Os meninos passaram a usa-lo como arma nas brigas. Josivaldo resolveu ensinar os gêmeos cantar em inglês, mas no segundo dia os vizinhos vieram reclamar da horrível lamuria que assustava até os cachorros nas ruas.
Tudo foi tentado pelo pai, até mágica. Os garotos aprendiam apenas o que lhes cabiam aprender como crianças. Brincar, brigar e fazer traquinagens. Josivaldo resolveu investir em si mesmo. Começou a pintar quadros e todo fim de semana ia vendê-los na feira. Compadecidos os conhecidos compravam todos e chegando a casa acendiam o fogão a lenha e assistiam o fogo lamber o emaranhado de rabiscos.