Aranha Negra
Brilhantes as palavras hoje (29/08) do goleiro santista Aranha sobre as odiosas manifestações racistas da torcida do Grêmio, invocando o célebre “I have a dream”, de Martin Luther King, para dizer, em linhas gerias, que a agressão moral de que foi vítima contribuiu para o seu crescimento pessoal.
Teriam sido identificados os autores da agressão, que poderão responder por crime de injúria ou difamação, com pena de até um ano de reclusão, facilmente atenuada com algumas cestas básicas. O que não resolve absolutamente a questão.
Aliás, qualquer tipo de pena apenas remedia o problema, mas não o resolve. O preconceito é também um fator educacional. É preciso que sejam criadas situações específicas destinadas a serem vivenciadas como exemplos para que, desde crianças, possamos entender que sob a pele de qualquer ser humano corre nas veias um sangue de cor vermelha. Seja o homem africano, ariano, indiano, judeu, jihardista, muçulmano, católico, espírita, nazista, budista, etc. E que, até por isso – sem falar que um determinado dia teremos todos que desaparecer – nenhuma pessoa é superior a outra. Ideia que deve ter prevalecido, também como exemplo, a partir do primeiro espécime humano que se achou nessas condições em função do seu intelecto, do seu poder de criação, da sua força física, etc. O que faz, por exemplo, um poeta achar que o seu texto deveria ter vencido o concurso, “mas quem venceu foi o dele”.
Como dissemos, a lei de reclusão ou multa, como qualquer outra, não tem a menor condição de dar solução a este ou a qualquer outro tipo de preconceito. Na medida em que atitudes preconceituosas desse tipo são reforçadas (ou sugeridas) em todos os instantes da vida pela diferença de oportunidades entre brancos e negros, como entre pobres e abastados; pelo número sempre superior de negros nos presídios; pela população majoritariamente negra nas favelas ou bairros pobres em qualquer parte do mundo, etc.
Onde o jovem negro norte-americano Michael Brown, 22, foi brutalmente assassinado por um policial branco – condado de Ferguson, Saint Louis –, enquanto a maioria da comunidade é negra, 80% da força policial é constituída por brancos. Isso nos EUA, a nação mais poderosa do planeta, onde o presidente é negro!
Rio, 29/08/2014