Onde está a felicidade?
Início de mais um fim de semana, Joana chega apressada. Na entrada do prédio onde mora, cruza com um casal de idosos. Demostram uma felicidade tranquila, serena. Segue-os com o olhar e fica pensando que aí está uma cena não muito comum, principalmente nos dias atuais.Uma ambulância que passa às pressas, de sirene ligada,tira-a de seus pensamentos. Joana já dentro do prédio, atravessa a portaria e dirige-se ao elevador. Em frente deste,impaciente rói unhas sem parar. É quando chega o porteiro que a avisa de que o elevador está enguiçado, que já foi providenciado o seu concerto. Diante disso, Joana dali sai e põem-se a subir as escadarias, até o quinto andar, de um sopro só.
Já em seu apartamento, larga a bolsa, tira os sapatos e senta-se de qualquer jeito no sofá. Enquanto o chuveiro espera, Joana fica a pensar: "Por que será que estou sempre com tanta pressa? Afinal,o fim semana está recém começando...". Entretida com estes pensamentos, toca o telefone. É uma amiga convidando-a para irem ao cinema. Agradece, mas diz que não está em condições de sair, pois está com muita dor de cabeça. Mentira dela isso....não estava afim de sair mesmo, de uns tempos para cá, gosta de ficar em casa, será desanimo de quê?
Joana, após o banho tomado, enfia-se num roupão e volta para o quarto. Pensa em comer alguma coisa, mas não é o que faz. Não está com fome. A ansiedade anterior dá lugar a uma certa lassidão. Estira-se sobre a cama e ali fica. Fica a pensar na vida. Na sua vida. Enquanto o tique-taque do relógio segue seu curso, os pensamentos de Joana, mais e mais aprofundam-se. Volta a lembrar do casal de velhinhos que viu de mãos dadas em frente ao prédio, deviam eles ter mais de setenta anos. Diante da lembrança da cena comovedora, seu íntimo sente uma pontinha de inveja, mas é apenas por um instante, porque a cena a deixou feliz, por causa deles, mas ao olhar para "dentro de si", tem a certeza de que não é uma mulher feliz.
Joana levanta da cama e caminha inquieta pelo quarto, afasta a cortina da janela e espia pela vidraça. Lá fora, um breu total, nenhuma estrela, nem a lua apareceu. Retorna então para sua cama macia, ajeita o travesseiro e tenta concilhar o sono, mas não consegue. Volta então a pensar na sua vida, na felicidade. Essa tal da felicidade, tão cantada e decantada em prosa e verso, onde andará? Depois desse pensamento, vencida pelo cansaço Joana adormece.
Joana de quando criança,tudo bem, apesar de ter levado uma vida comum, como tantas outras, ela era feliz. Não tinha a preocupação dos adultos, tinha o amor dos pais e irmãos. Já na fase da adolescência, já mais consciente de seus atos, sabia que era chegada a hora de semear. Fez de tudo para trilhar o bom caminho, estudou, conseguiu um bom emprego. Em suas horas de folga saía com as amigas, fazia-o com muita frequencia e com uma grande dose de expectativa. Buscava a felicidade lá fora.
Joana, com seus amigos frequentava barzinhos, baladas, circulava por ruas e avenidas, desfilava por shoppings e festinhas. Viajou, para o exterior também. Desfrutou das delícias da orla atlântica. Depois do bom emprego, especializou-se, conseguiu comprar o apartamento onde mora, possui um bom carro. Teve alguns namorados, mas como sempre dizia, nada sério. Atualmente Joana beira os trinta anos, e já não sai mais tanto assim. Parece que muita festa cansou-lhe a beleza.
Outro final de semana, Joana outra vez encontra-se em seu quarto e fica pensando em sair, mas a idéia logo se esvai diante de muitas frustrações já sentidas. Procurou, procurou, mas nada da felicidade chegar. Por onde andará? Absorta com esses pensamentos, o barulho dum trovão faz com que seus pensamentos se desfaçam. A chuva começa a cair torrencialmente. Joana, já de janela fechada,vai ao encontro de sua camisola preferida, veste-a e fica pensando: Por que eu não me sinto feliz? Onde será que está a felicidade? Pega um livro que está lendo, abre-o na página marcada e fica pensando: "Este sim, é um fiel companheiro".
Joana já não é mais uma mocinha boba e ingênua, alguma experiência da vida já tem, já sabe que não precisa tentar agradar gregos e troianos. Maturidade adquirida, fez com que Joana encarasse a vida de uma outra forma. Mesmo assim, um certo vazio em sua vida permanece.
A noite avança e Joana continua ali, a ler avidamente. A certa hora da madrugada o cançaso domina-a e ela pega no sono. O livro, cujo título é: "Em busca da felicidade", escorrega de suas mãos e cai sobre seu corpo. A chuva lá fora a esta hora está miúda e fria, imperceptível aos ouvidos de Joana, que dorme profundamente. Adivinhem com o que Joana está sonhando?
Em busca da sua felicidade, Joana procurou por todo canto. Aqui, ali, e acolá também, mas não a encontrou em lugar nenhum. Esqueceu de procurar dentro si mesma. A felicidade estava por ela a esperar, dentro do seu coração.