A Marca do Líder
Há pessoas adeptas a jantares, coquetéis, “convescotes”, a todo tipo de recepção com acesso liberado, isto é, “boca livre”, viagens com todas as despesas pagas, etc. Há grupos de pessoas que se especializam em compromissos desse tipo e chegam mesmo a manter uma lista com vários lançamentos de livros, vernissages, palestras, inaugurações de lojas, em que se exige apenas o comparecimento, sem qualquer dificuldade quanto ao acesso, além da indicação de alguém ou certo conhecimento com pessoa relacionada ao evento.
Tais atividades muitas vezes são decorrentes de cargos que ocupam a frente de entidades de classe, por exemplo, academias literárias, conselhos regionais, etc., onde não raro, por parte de alguns, o objetivo senão maior, mas de certo relevo, pode ser o de se beneficiar de pequenas vantagens ou mordomias ou o de incluir posteriormente a função no conjunto de seus dados biográficos.
Ainda que existam pessoas que não deem importância a isso, nada há absolutamente de errado com quem pense de outra forma. E ninguém, mais uma vez, pode se julgar melhor que o outro, por não fazer isso ou aquilo. Trata-se de uma peculiaridade do gênero humano. O que se pode dizer apenas é que, nessas circunstâncias, as pessoas com esse perfil, isto é, para as quais sejam de grande significado as benesses ou quaisquer vantagens que o cargo possa oferecer, tais pessoas, via de regra, não conseguem realizar uma boa administração à frente do órgão que ocupam ou para o qual contribuam com o seu trabalho.
Decorre daí, por exemplo, o fato de que a maioria de nossos políticos pouco ou nada realiza, porque se candidatam ao cargo eletivo muito mais preocupados com as vantagens pessoais do que com o trabalho que possam oferecer à população.
Por isso é que quando nos deparamos efetivamente com um líder, podemos ter certeza de que as suas maiores preocupações são com o trabalho que exerce. Ele ou ela não têm tempo para outra coisa que não seja o desenvolvimento do que tiver sido planejado, visando o alcance do seu objetivo. Preocupações menores, se existirem, ocuparão no máximo um plano secundário. Não veremos uma pessoa nessa condição subir ao palco para dizer que realizou isso ou aquilo. Para dizer que detém esse ou aquele título. Essa ou aquela medalha. Não será preciso porque outras farão isso por ele ou ela.
E quando ele ou ela se forem, o trabalho corre sempre o risco de sofrer uma solução de continuidade. Apesar de ninguém ser, na verdade, insubstituível. Na medida em que todos somos, no mínimo, biologicamente desiguais.
Rio, 04/08/2014