Nadando no Deserto ou Antenas Dantescas
A gravação de imagens através de câmaras colocadas em casas, prédios, lojas, postos de combustível, calçadas, etc. constituiu-se na coqueluche do sensacionalismo midiático.
Todos os dias, pela manhã, à tarde ou à noite, nos surpreendemos diante da TV com cenas como a do brutamontes imbecil derrubando uma mulher com uma violenta cotovelada, a ponto de lhe provocar um traumatismo craniano; ou com dois sujeitos saltando de um carro e assassinando a tiros, como se fosse um animal peçonhento, um homem que estava em pé diante da sua padaria, por ter este homem reclamado que não deveriam consumir droga em frente à sua loja; ou com bandidos entrando em joalherias, supermercados, farmácias, postos de combustível, etc. para, de arma em punho, cometer assaltos, tirar vidas. Cenas que são exaustivamente repetidas. Como dissemos, pela manhã, à tarde e as mesmas cenas à noite. Para que durmamos em paz.
Isto é o que chamamos jornalismo, segundo os Dha Atenas da vida. Uma realidade orwelliana mais cruel que a do livro ou filme “1984”.
Claro que a denúncia é válida. Mas a sua repetição à exaustão na desesperada procura pelo aumento dos índices ibopianos? Conforme determinação dos donos do maior sistema de televisão do país? Ou de um dos donos de outra rede que ironicamente se diz “religioso”?
Por outro lado, de que vale a denúncia se, na maioria dos casos, nada é apurado? Hoje mata-se qualquer um a qualquer hora por qualquer motivo, com chances absurdas de o criminoso responder em liberdade. E continuar em liberdade. Impunidade que só faz colaborar na proliferação do crime ou ações violentas.
De cima do avião, dependendo das condições de visibilidade, o deserto pode ser o mar. Precisamos aprender a nadar novamente.
Rio, 27/08/2014