A COMPANHEIRA
São quatro horas da manhã, o silêncio é ensurdecedor.
Estou aqui sentada, olhando a fumaça do cigarro-triste vício, que sobe indolente para o teto branco.
O tic-tac do relógio parece avolumar-se na quietude desta madruga.
De quando em quando ouço ao longe um galo cantar, o apito de um guarda noturno, o ladrar de um cão.
Não estou só.
Há pouco chegou tropeçando no silêncio, a dona solidão com os olhos embotados de cansaço.
Trouxe consigo espectros de desencantos com suas bocas escancaradas num mudo grito de mágoa latente.
A solidão olhou-me calada com seus olhos vazios. Aliás, ela é uma grande companheira, muitas vezes nos encontramos entre a multidão.
Ah! Não demora muito e o sol com suas grandes mãos, afastará as cortinas e as névoas do amanhecer e já poderei ver a estrada da rotina de cada dia.