Melancolia de um amor que não veio

A manhã estava morosa e cálida. Lá fora se ouvia o gorjear dos pássaros, e aqui dentro uma vontade de não ser. Abrir os olhos não fazia muito sentido. Talvez permanecer inerte e esperar o tempo fazer sua parte. A cabeça rodava, o estomago apertado, o cérebro fervilhando. Os pássaros... o que os movia neste ânimo intenso de todas as manhãs? A cabeça doía e os bichinhos não entendiam que tanto barulho logo assim tão cedo não ajudava.

Vinha lá da cozinha um cheiro de café fresquinho e ali as ideias mornas. Não conseguia pensar direito, a noite mal dormida não levará consigo aquele tormento. Será que toda essa porcaria se resume a amor ou à falta dele?

Tinha amigos, tinha a mãe, tinha primos, tios, tantos... Mas não bastavam? Porque esse tipo de amor não era suficiente? Porque rir, brincar e ter o carinho de todos eles não bastava? Porque diabos uma mulher precisa de um homem que possa chamar de seu? Porque essa besteira de precisar sentir-se de alguém? Amor é amor oras, tanto faz de onde vem! Porque se se sentia assim tão triste, tão sem vontade de nada? A não ser essa merda dessa vontade de chorar, chorar até a dor sair. Esse vazio idiota a fazia se sentir tão indefesa, tão incapaz, tão... Não sabia dizer ao certo, mas sentir-se frágil a deixava doente. Tão bom ter o controle das coisas, tão bom ser dona de si... E fora assim por muito tempo. Tão longe desse tal e cobiçado amor. Ela não quer, ela não gosta. Que esse vilão traiçoeiro vá lá assombrar quem o busca! Ela não buscava nada, gostava demais da sua paz e da calmaria interior. Mas vem algo, essa nostalgia miserável, quem nem se sabe de onde e nem porquê. Ai fica essa bosta de vida, essa insatisfação desmedida. e não se sabe onde buscar sossego, nem sabe como o tormento chegou. Só sabe que roubou sua paz. Ela tem essa mania de ser forte, de ser feliz, de ser risonha, de ser tão de bem com a vida. Gosta disso não! Acostumada a tantos assédios, a tantos quereres não correspondidos, acostumada a levar tudo na brincadeira. Tão feliz a vida assim, cheia de riso e desapego... Aí lá de onde nem se sabe, vem essa vontade de ter o que não se pode. Porque é assim que as coisas são e nem se deve brigar com elas. Porque a coisa só vem... ou não vem. E não veio. E ela ali sofrendo, e ela ali querendo, e ela ali... Porque?

Fernanda Garoli
Enviado por Fernanda Garoli em 22/08/2014
Reeditado em 22/08/2014
Código do texto: T4932289
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