Sobre reflexões em tempos diferentes
Quando eu era criança e caía a chuva, lembro-me tão bem que na minha mente infantil e de total inocência ela só tinha duas definições: fúria do papai do céu ou então suas lágrimas.
Lembro que certa vez ao sair do colégio debaixo de uma chuva forte perguntei:
- Mãe, por que o papai do céu tá chorando?
Ela respondeu:
- Porque ele fica triste com as coisas ruins que as pessoas fazem.
Perguntei a mim mesma em pensamento se as pessoas não se importavam com o choro dele (e eu sentia tanta pena).
Cada vez que chovia eu ficava pensando se ele estava zangado ou triste e imaginava que era sempre culpa das pessoas. Parada em cima do pequeno sofá do meu quarto (para poder ver pela janela) eu ficava a questionar: "o que será que fizeram hoje?", "será que muita gente deixou triste o papai do céu?" (...)
A medida que fui crescendo percebi que a chuva não é mais do que um apaixonante fenômeno da natureza. Percebi que estava errada. Uma chuva intensa e violenta não é Deus reclamando, e sim a natureza. Quantas vezes as pessoas fazem mal a ela, como fazem também a si mesmas e as outras? Muitas, algumas dessas vezes com consciência desse mal, enquanto outras não.
Meus pensamentos modifico: a natureza e o ser humano que se expressam constantemente através do barulho. Talvez Deus só se expresse em silêncio.