O amor tem quatro patas

O amor tem quatro patas

Pode parecer mais um clichê daqueles que são usados em comédias dubladas baratas, mas não, é simplesmente uma comparação fácil de se ver. Sabe, começar um amor é tentar se identificar no outro, ou mesmo adaptar um outro alguém que se ama, e o que fazemos com um cachorro novo? Tentamos amá-lo muito e o adaptamos a uma rotina humana demais, com horas para necessidades, refeições e carinho, ninguém gosta de carinho toda hora, mas quase sempre é bom.

Também não pretendo falar de amor vira-lata, de cachorras ou algo do tipo, mas que com muita sutileza o amar segue o curso de um cãozinho, sabe, aqueles que temos domínio, ensinamos, recompensamos na hora certa que é pra adestrar, e assim, de beijos, afagos, comida porque não, vamos nos amando mais, sincronizando rotinas.

Como o amor, o cãozinho silenciosamente começa rebelde, ora, ele não sabe o que é jornal, onde urinar, quando comer, quem são seus donos e cadê sua mãe... Assim como o amor. Só o que pode guiar os dois é a disciplina, a confiança um pouco cega, e algo mais que só ambos sentem, cachorro e dono, amor e amado, aquilo que simplesmente marca o passo do coração de jeito errôneo, mas certo demais para saber que é a pessoa certa.

Então começa a fase de amarrar pontas soltas, integrar, confiar, começamos a ensinar ao outro o que são seus gostos, a que horas se come, quando dar carinho e receber um pouco também... Afinal de contas, alguém precisa dizer a um cão que está triste para que esse venha lambendo tudo? Ou algum casal precisa dizer alguma palavra que transpasse um olhar penetrante?

Cães também entendem olhares, leva um pouco mais de tempo... Com alguns meses com repetições, encontros, rotina, passamos a ter confiança sobre o outro, carinho, dividimos lar, refeições e sabemos a hora de emudecer. O bonito do cachorro e do amor é que ambos respeitam a racionalidade limitada, mas sabem muito bem quando ultrapassar a barreira da loucura, do esquecimento, do querer mais, quando se ama toda chegada a casa é um constante balançar de rabos, latidos, urinar porque não, é o extravasar do companheiro.

Cães não precisam falar para avisarem que estão perto, nem é ensinado aos amantes que podem invadir sua cama, mas ambos passam a essa fase com tanta naturalidade que é gostoso e pedimos para que seja lento demais para percebermos tudo isso... É tocante precisarmos de alguém do lado que não diga nada, só esteja ali, e deitamos, arfamos, até cochilamos, mas estamos ali. As vezes nossa razão tenta impedir um contato mais próximo, mas como não ser movido pela doçura daquele olhar “pidão”? Amar é mesmo um constante lamber de crias, domesticar a loucura, fingir ser adestrado ao lado de quem ama.

Gabriel Amorim 12/07/2014