Necessidades
Preciso de um dia com gosto de recomeço, comendo rapadura ou uma talhada de melancia; um dia que não me deixe pensar no talvez, no senão, ou no quem sabe; mas um dia verdadeiramente reconfortante. Que esse dia há de chegar, tenho certeza; mas que venha logo!Já sinto dores nas vértebras descoladas da minha alma e meus pensamentos já não respondem às inúmeras sinapses de meu cérebro. Aliás, nem sei mais se ainda tenho pensamentos; talvez...
Hoje é um dia em que eu gostaria de ter apreço por algo além de mim, além do que está posto; gostaria de poder fazer previsões, coisas inesperadas; ah, como eu gostaria de poder!Não quero olhar para trás a essa altura da vida – não que me sinta no auge de alguma coisa ou velha demais para recordar, mas as lembranças me levariam a um momento que eu já não controlo;
Pensando então na dialética da vida – ontem, hoje, amanhã, um dia... - queria esticar as mãos para alcançar, não o inalcançável como alguns pretendem ( tem gente que deliberadamente não tem senso de vida!), mas o porvir. Porque no fundo, no fundo, a gente só quer poder.
A vida tem a estranha mania de afunilar as coisas – afunila o tempo, as perspectivas, as possibilidades... até afunilar a gente; Com o passar do tempo a visão se afunila, o tato pela vida, o gosto pelas coisas, tudo se afunila, tudo faz sentido ( ou não).