Um porre de irrealismo, por favor
Chega o fim da noite e eu olho pros lados, pra porta da sala e janelas dos quartos e não vejo fuga. Faz dias que me encontro enclausurado, só escrevendo textos que de nada me adiantam a não ser para expurgar alguma indignação ou tristeza, surpresa ou algum sentimento fingindo de um poema. Estou com tosse. Sempre no mesmo horário, às 23h, começo a tossir, tosse seca e barulhenta e que me desgasta aos poucos. Me sento sobre uma cadeira e lá vou eu redigir umas palavras que me bombardeiam. Sou fraco, muito fraco, não sei resistir às palavras. O mundo lá fora me diz que tenho que ser alguma coisa na vida e eu não sei como proceder. Crueldade que sofro, crueldade que todos nós sofremos. Eles nos impõe e uma hora ou outra lá estamos nós assumindo uma vontade nossa que na verdade veio do outro. Eles finalmente conseguem colocar em nossas mentes que o que eles acham que é certo, de fato, é certo. É copa do mundo e não estou nem um pouco animado ou disposto para torcer para ninguém. Tanto faz, tanto fez, a merda já está feita, a grana já foi desviada, a precariedade já é da casa. Estamos na metade do ano e já quero férias de tudo. “Acorda, meu rapaz, acorda”, a consciência me chama. Estou um lixo, preciso em cuidar, reconheço. Enclausurado ou não, de dia, de tarde ou no final de uma noite como esta, eu quero que se danem todos os que dizem que não precisam do amor, pois acho todos uns hipócritas de carteirinha e máscara. Eu quero desfrutar da simplicidade e sentir tudo de bom que ela pode me oferecer, pois eu sei que as melhores coisas estão lá, mas sei que isso eu não vou achar com esse tipo de gente que não acredita no amor, nem com a FIFA, nem com os caras do mensalão, nem com os capitalistas consumistas de plantão, nem com a novela das sete, oito ou nove. Enclausurado, mais uma vez. Uma dose de irrealismo e eu me liberto disso tudo. Seria um bom e danado de um porre.