Uma canção para viver a vida

Tim Maia, dono de uma das vozes mais belas que já tivemos a felicidade de ouvir, disse certa vez, na sua humildade de menino que não queria crescer, que sua maior alegria era quando estava cantando e que precisava cantar sempre, pois quando não estava cantando estava fazendo besteira.

Uma simplicidade com profunda significação filosófica e moral na vida do ser. Não me refiro aqui à moralidade barata, meus queridos. Naturalmente, ela não me cativa até porque não nos acrescentaria nada. E nem lhes roubaria esses minutos preciosos com sermões sem sentidos. O mundo já está farto deles.

Refiro-me à moral que traz felicidade e, acima da felicidade, dignidade ao ser humano. Pois poderíamos até viver com a infelicidade, dependendo da acepção que dermos a esta palavra, mas jamais poderíamos viver de forma indigna. Ou seria apenas existir e não viver.

Abba, a famosa banda que encantou os anos setenta com suas melodias, vendendo quase quatrocentos milhões de discos, pronunciou em um de seus maiores sucessos, I have a dream, um pensamento semelhante ao de Tim: “Eu tenho um sonho, uma canção para cantar que me ajuda a superar qualquer coisa”.

E penso que todos nós precisamos de uma canção que cantaríamos a vida toda, para suportar os reveses da vida, para buscar a felicidade real, para ter força para viver com dignidade.

Os reveses que não são citados aqui por pessimismo meu. Sempre fui dos que acham que o copo está meio cheio. Mas, buscando conhecer o caminho para bem trilhá-lo e se precaver de possíveis armadilhas, e nesta busca percebendo que ele é difícil, não quer dizer que o viajante seja um covarde que já desistiu diante das dificuldades encontradas.

Estes obstáculos são para o crescimento do espírito e na maioria das vezes apenas totalmente assim entendidos na condição de espíritos fora da ilusão causada pelo corpo físico. Mas eles são reais, são doloridos e podem nos fazer perder a fé, se não tivermos prudência e discernimento. Se ainda não tivermos uma canção para cantar pela vida toda.

A mesma motivação que nos levaria a buscar a felicidade acima das felicidades passageiras. A felicidade que só pode ser encontrada vivendo-se a essência e não a aparência. Pois, não obstante toda a tecnologia desenvolvida, nada existe de mais efêmero que a aparência.

E a dignidade, ah, palavra forte e intrínseca à essência do ser, talvez o item mais importantes destes três citados. E a dignidade é intrínseca ao espírito humano por sua essência ser divina.

Sem ela não teríamos força para suportar os reveses e nem discernimento para saber quando encontrássemos a felicidade real, pois esta última vive lado a lado com a tristeza.

E, para ser bem sincero, penso que todos nós somos como o Tim Maia e quando não estamos cantando nossa canção de viver, vivendo nosso sonho de ser além do que o vulgo, seja esta canção uma música clássica ou uma canção popular, estamos invariavelmente fazendo besteiras.