Fernandão, desculpe o des-abafo!!!

Carlos Eduardo Agne
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Ainda que ninguém leia, tampouco se importe...
Mesmo assim vou dizer, preciso des-abafar. 
Primeiro, ao pensar na palavra 'des-abafar', logo vem à mente uma panela fervendo e ao retirar-lhe a tampa, imediatamente o vapor, o calor a subir, o cheiro, o 'bafo' a exalar... Penso que durante o ato de cozinhar, colocar a tampa na panela é tão necessário, quanto retirá-la. Faz-se um exercício constante de tampar e destampar, abafar e desabafar.

Talvez viver seja um pouco isso... analogamente, hoje necessito tirar a tampa, preciso des-abafar. Há vários dias, sem a possibilidade de escrita, sinto-me um caldeirão em ebulição (que falta de modéstia)! O fato é que a vida nos rouba da vida, enquanto, ocupa-se com o fazer, fazer e fazer, a panela vai cozendo, cozendo, cozendo... chega um determinado momento, em que é necessário abri-la e deixar exalar o vapor, o calor, o cheiro, quiçá o perfume, ou a tampa pode explodir...

Pois bem, preparei mentalmente minha agenda, para abri-la hoje e deixar exalar tudo isso. Mas, as notícias que me despertaram logo cedo, tiraram-me da rota inicial... talvez meu dizer seja menos perfumado do que o inicialmente planejado.

Iniciei a manhã recebendo um WhatsApp, uma piada política de mau gosto, recheada de inverdades sobre o expresidente Lula, a temperatura começou a subir... Na tentativa de amenizar, acessei o Facebook para distrair-me, ledo engano, em minha linha de tempo, o compartilhamento 'Do Gato do Face', outra piada maldosa sobre a Presidenta Dilma, a fervura quase começou. Mas... até aí leva-se na brincadeira, coisas da democracia. Porém, quando li a notícia: "Morre Fernandão, vítima de acidente aéreo", pluft! Entrei em ebulição, a tampa explodiu, as gotículas de vapor, condensaram e rolaram panela abaixo... eu chorei!

Oh, o que é isso?
Em plena manhã de sábado, como lidar com tudo isso sem impactar-se emocionalmente? Impossível! Resolvi abusar da palavra como válvula de escape nesse des-abafo... 
Afinal, o que é a vida? Para o biólogo, uma resposta científica. Para o poeta, um verso, um poema... Talvez a vida seja apenas um parêntese entre o nascer e o morrer. O que vai em cada parêntese? Talvez o inédito de cada instante, importa vivê-los intensamente... 

E morte o que é?
Alguns perdem o sentido da vida e tiram-na deliberadamente, outros são interrompidos de vivê-la precocemente. Vivemos as contradições mais descabidas, e a morte sempre nos desestabiliza! Hoje perdemos nosso ídolo Colorado, perdemos um referencial de bom menino prematuramente... que pena!
Parece que a  morte e a vida andam juntas, compreendê-las não é tarefa simples. Penso que, indiferente de classe, de gênero, de ideologia ou de crença, em qualquer parte do universo, onde quer que existam seres humanos, existirão diferenças, mas existirão sobretudo, emoções e sentimentos que nos identificam, nos tornam igualitários, portanto, que o respeito e o amor sejam o amálgama em nossas relações, enquanto é tempo...

Eh, penso que o meu des-abafo serviu ao menos para amenizar a temperatura interna, acalmando meus demônios e higienizando seus bafos... afinal, a vida é tão frágil, tão efêmera vale vivê-la na plenitude de cada instante.
Obrigada Fernandão, pelos momentos inesquecíveis que proporcionaste ao esporte gaúcho, viverás para sempre em nossas memórias... 


 
 
Gelci Agne
Enviado por Gelci Agne em 07/06/2014
Reeditado em 08/06/2014
Código do texto: T4836292
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