Você pode se Velho, Acredite
Minha avó, aos sessenta e cinco anos, subia em árvores e queria uma moto de presente.
Minha mãe, aos vinte e seis, passava os dias lamuriando e repetindo que estava velha e que a vida estava no fim.
Cresci entre estes dois extremos vendo nitidamente o que a forma de pensar faz com as pessoas.
Minha avó era uma pessoa ativa: acordava cedo, cuidava da casa, das plantas, fazia compras, organizava as coisas e estava sempre pronta e à espera de que alguma coisa muito boa acontecesse.
Minha mãe, trabalhava muitas horas por dia vendo o tempo passar como um fardo que ela arrastava em uma espécie de punição.
Por muitas vezes vi minha avó ficar encantada com uma roseira que florescia, mas não vi minha mãe vibrar nem com os acontecimentos mais fortes vividos por ela ou por quem a cercava.
Para minha avó, a juventude resplandecia em seus quase setenta nos, para minha mãe a velhice chegou antes dos trinta.
Eu confesso que não entendia a mãe e admirava a avó e bem cedo percebi que ambas haviam feito escolhas.
Ao longo da vida conheci muita gente. Vi pessoas que se tornaram verdadeiras anciãs aos 40, gente que desistiu aos 50 e alguns que se entregaram mesmo antes de ter 30 anos.
Uma lástima.
Há também os que passaram os anos à espera da aposentadoria para então restringirem a existência a três atividades básicas: ir ao mercado, entrar na fila do banco e fazer visitas à farmácia.
O pior caso que já presenciei foi de uma tia que aos 50 anos afirmou: “já criei meus filhos e meus netos estão chegando, portanto, não tenho mais nada para esperar da vida.”
Triste, trágico, profundamente vazio.
Mas tudo tem um outro lado. Também conheci pessoas extremamente ativas aos 60, 70, 80 e 90 anos. A bisavó dos meus filhos, por exemplo. Aos 102 anos, é lúcida, alegre e determinada. Quando questionada sobre a idade ela responde: “não sei quanto tempo tenho, mas tudo que tiver, eu quero.” Linda demais.
Também conheci pessoas que resolveram mudar de vida aos 60, partiram em busca de uma atividade, encontraram um grande amor e gargalham a cada aniversário como se a vida fosse um brinde.
Mas, como diz o meu amigo fã dos aviões, há coisas que “Não dá mais tempo”. É verdade. Há sonhos que se perdem à medida que o tempo avança.
Eu, na altura do campeonato, desisti de ser medalhista olímpica em judô, fazer teatro profissional e me tornar astronauta. Fora isto eu sou daquelas chatas que acredita que mesmo aos 77 terá energia para curtir a vida. Aliás, esta é minha marca: 77. Vou “começar” a envelhecer por aí, até lá, filhos, netos e marido vão ter que me aguentar.
Minha avó morreu de câncer aos 67 anos. Ela não soube da doença até receber a notícia dois dias antes de falecer em uma cirurgia de emergência.
Em seus últimos minutos ela ainda tinha esperanças. Queria a moto, os bosques, as histórias todas que ainda não havia vivido.
Eu aprendi muito com ela.
Às vezes olho para minha vida e vejo os planos que ficaram lá atrás.
Em outros momentos começo a me lembrar de coisas que aconteceram há 20, 30 anos e me pego pensando em como o tempo passa rápido.
E então vejo a vida fluindo em tudo me cerca: os olhos dos meus filhos, as plantas que insisto em cultivar, as cores das estações, a saúde que tenho, os anos que virão, os bons vinhos e livros e as infindáveis possibilidades de planos, sonhos e projetos. Isto sem falar no meu amor!
Estou apenas começando, uma criança que ainda brinca nos quintais mágicos da vida e que tem muita estrada pela frente até que os 77 cheguem.
Até lá vou continuar tentando celebrar a vida, porque uma das coisas que mais me incomoda é a velhice por opção.
Minha mãe, aos vinte e seis, passava os dias lamuriando e repetindo que estava velha e que a vida estava no fim.
Cresci entre estes dois extremos vendo nitidamente o que a forma de pensar faz com as pessoas.
Minha avó era uma pessoa ativa: acordava cedo, cuidava da casa, das plantas, fazia compras, organizava as coisas e estava sempre pronta e à espera de que alguma coisa muito boa acontecesse.
Minha mãe, trabalhava muitas horas por dia vendo o tempo passar como um fardo que ela arrastava em uma espécie de punição.
Por muitas vezes vi minha avó ficar encantada com uma roseira que florescia, mas não vi minha mãe vibrar nem com os acontecimentos mais fortes vividos por ela ou por quem a cercava.
Para minha avó, a juventude resplandecia em seus quase setenta nos, para minha mãe a velhice chegou antes dos trinta.
Eu confesso que não entendia a mãe e admirava a avó e bem cedo percebi que ambas haviam feito escolhas.
Ao longo da vida conheci muita gente. Vi pessoas que se tornaram verdadeiras anciãs aos 40, gente que desistiu aos 50 e alguns que se entregaram mesmo antes de ter 30 anos.
Uma lástima.
Há também os que passaram os anos à espera da aposentadoria para então restringirem a existência a três atividades básicas: ir ao mercado, entrar na fila do banco e fazer visitas à farmácia.
O pior caso que já presenciei foi de uma tia que aos 50 anos afirmou: “já criei meus filhos e meus netos estão chegando, portanto, não tenho mais nada para esperar da vida.”
Triste, trágico, profundamente vazio.
Mas tudo tem um outro lado. Também conheci pessoas extremamente ativas aos 60, 70, 80 e 90 anos. A bisavó dos meus filhos, por exemplo. Aos 102 anos, é lúcida, alegre e determinada. Quando questionada sobre a idade ela responde: “não sei quanto tempo tenho, mas tudo que tiver, eu quero.” Linda demais.
Também conheci pessoas que resolveram mudar de vida aos 60, partiram em busca de uma atividade, encontraram um grande amor e gargalham a cada aniversário como se a vida fosse um brinde.
Mas, como diz o meu amigo fã dos aviões, há coisas que “Não dá mais tempo”. É verdade. Há sonhos que se perdem à medida que o tempo avança.
Eu, na altura do campeonato, desisti de ser medalhista olímpica em judô, fazer teatro profissional e me tornar astronauta. Fora isto eu sou daquelas chatas que acredita que mesmo aos 77 terá energia para curtir a vida. Aliás, esta é minha marca: 77. Vou “começar” a envelhecer por aí, até lá, filhos, netos e marido vão ter que me aguentar.
Minha avó morreu de câncer aos 67 anos. Ela não soube da doença até receber a notícia dois dias antes de falecer em uma cirurgia de emergência.
Em seus últimos minutos ela ainda tinha esperanças. Queria a moto, os bosques, as histórias todas que ainda não havia vivido.
Eu aprendi muito com ela.
Às vezes olho para minha vida e vejo os planos que ficaram lá atrás.
Em outros momentos começo a me lembrar de coisas que aconteceram há 20, 30 anos e me pego pensando em como o tempo passa rápido.
E então vejo a vida fluindo em tudo me cerca: os olhos dos meus filhos, as plantas que insisto em cultivar, as cores das estações, a saúde que tenho, os anos que virão, os bons vinhos e livros e as infindáveis possibilidades de planos, sonhos e projetos. Isto sem falar no meu amor!
Estou apenas começando, uma criança que ainda brinca nos quintais mágicos da vida e que tem muita estrada pela frente até que os 77 cheguem.
Até lá vou continuar tentando celebrar a vida, porque uma das coisas que mais me incomoda é a velhice por opção.