MEU CAVALO
Morreu na manhã de 24 de junho de 2012 o cavalo, rapadura, cujo dorso amável estiveram meus filhos ainda crianças e meus netos e netas —, sempre em pelo. Nunca foi permitido colocar arreio sobre ele, desde seu resgate numa olaria onde era torturado, no bairro do Serrote, neste município de Lambari, em 1989.
Nesta manhã amarga os olhos dele me contemplavam enquanto eu lhe acariciava e tentava fazê-lo alimentar-se... Tentativa inútil. Apenas aceitava meu carinho talvez para não ser indelicado... De repente a sua respiração ficou mais difícil, o ar saia entrecortado. Junto à aflição que o torturava somava-se a minha sem saber o que fazer.
Procurou se afastar alguns centímetros como se temesse me machucar. Curvou devagar as pernas dianteiras como se quisesse ajoelhar-se, mas antes que pudesse fazer isso, perdeu o controle dos membros e seu corpo foi de encontro ao chão como se alguém o tivesse derrubado covardemente. Fui ao seu encontro tentando massagear-lhe o pescoço, entretanto, o sofrimento não arredou um milímetro, piorava diante de minha impotência. Percebi que os olhos dele não me viam mais —, olhavam para dentro de si mesmo quem sabe tentando compreender o que estava lhe acontecendo.
Ele procurando ar e eu falando com ele, a agonia se prolongou por algum tempo até que suas pernas retesaram-se e, no esforço descomunal para se levantar, foi obrigado a parar, ficar imóvel para sua vida esvair-se rumo às montanhas próximas...
O invólucro amável, coberto pela quietude da noite do silêncio, descansou no pasto que lhe acolhera, sem poder me ouvir, sem me ver... Mas a sua aura ainda pode ser vista sob as sombras das árvores...
Jorge Lemos
Morreu na manhã de 24 de junho de 2012 o cavalo, rapadura, cujo dorso amável estiveram meus filhos ainda crianças e meus netos e netas —, sempre em pelo. Nunca foi permitido colocar arreio sobre ele, desde seu resgate numa olaria onde era torturado, no bairro do Serrote, neste município de Lambari, em 1989.
Nesta manhã amarga os olhos dele me contemplavam enquanto eu lhe acariciava e tentava fazê-lo alimentar-se... Tentativa inútil. Apenas aceitava meu carinho talvez para não ser indelicado... De repente a sua respiração ficou mais difícil, o ar saia entrecortado. Junto à aflição que o torturava somava-se a minha sem saber o que fazer.
Procurou se afastar alguns centímetros como se temesse me machucar. Curvou devagar as pernas dianteiras como se quisesse ajoelhar-se, mas antes que pudesse fazer isso, perdeu o controle dos membros e seu corpo foi de encontro ao chão como se alguém o tivesse derrubado covardemente. Fui ao seu encontro tentando massagear-lhe o pescoço, entretanto, o sofrimento não arredou um milímetro, piorava diante de minha impotência. Percebi que os olhos dele não me viam mais —, olhavam para dentro de si mesmo quem sabe tentando compreender o que estava lhe acontecendo.
Ele procurando ar e eu falando com ele, a agonia se prolongou por algum tempo até que suas pernas retesaram-se e, no esforço descomunal para se levantar, foi obrigado a parar, ficar imóvel para sua vida esvair-se rumo às montanhas próximas...
O invólucro amável, coberto pela quietude da noite do silêncio, descansou no pasto que lhe acolhera, sem poder me ouvir, sem me ver... Mas a sua aura ainda pode ser vista sob as sombras das árvores...
Jorge Lemos