A Velha Carta, Desbotada ou Coisa Assim...
Ontem como de costume, já estava de pé as 5:00 da manha, o costume de acordar cedo, veio de uns tempos para cá, talvez ansiedade de viver um pouco mais, talvez aflição por ver o tempo passar tão rápido, mas acima de tudo, pela paz e pela quietude que as manhas carregam consigo, é algo que me encanta, faço um cafezinho e ao delicia-lo, sento em minha pequena cadeira e fico olhando a aurora romper o breu da noite que ainda teima em dar o ar de sua graça, fico sentado ali revivendo tempos passados e planejando os tempos futuros, imaginando o que ainda esta por vir.
Mas hoje, em especial peguei uma caixa de guardados que tinham coisas muito antigas e dentre elas, encontrei uma carta de minha mãe, uma carta amarelada pelo tempo, como devem ser as cartas antigas, uma carta que continha tantas belas palavras, uma carta que guardava saudades que pareciam não ter fim, aquilo me transportou para o Rio de Janeiro de 1990, me vi garoto ainda, a vida era minha, o mundo era meu e precisava ser explorado, a vida urgia em ser vivida.
Fiquei vagando, vagabundeando por minutos eternos pelas estradas das lembranças, fui tão fundo em mim que chorei, chorei por saudades passadas, chorei por minha mãe que me desejava força, que me dizia que a vida era assim mesmo e que algumas vezes ela arranca a gente de perto de quem amamos, mas que ela me desejava toda a sorte do mundo, e que quando eu voltasse, que eu viesse renovado, que eu voltasse tendo me encontrado, para poder seguir em frente, parecia reviver cada pedacinho daqueles momentos e que naquele dia, eu estava completando 21 anos e que era muito amado, muito querido por todos. E assim, ao tocar naquele velho pedaço de papel que guardava tantos sentimentos, eu novamente como da primeira vez, molha-lo com minhas lágrimas sentidas.
Fiquei pensando também na questão da tecnologia, como ela despersonifica os sentimentos, como é frio o e-mail, como não são palpáveis os sentimentos, que surgem na tela fria do computador, é tudo tão automático, como automatizada esta a vida.
Nada tenho contra a tecnologia ao contrario disso, sempre trabalhei com ela, mas ela trás a falsa ideia de aproximar às pessoas, quando na verdade as afasta, as coloca frente a frente, mas tão distantes que podem ate se olhar mas não conseguem tocar. Talvez seja isso, talvez seja esse não tocar que me incomoda, talvez seja essa tela que me tira lágrimas que não são de saudades, mas sim por fazerem meus olhos arderem, talvez seja tudo isso, ou simplesmente eu que esteja ficando velho.
Mas mesmo com a velhice, eu quero manter essas ideias, quero sentir, quero poder olhar nos olhos e quero poder chorar sobre minhas cartas toda a saudade que meu coração estiver sentindo. Quero ser humano de verdade, quero ter minhas lembranças guardadas só para mim e não ter que compartilha-las com alguma home Box de um servidor gigantesco onde tudo se mistura de forma organizada, porem não sentida, não amada, não vivida.