"D I A D A S M Ã E S"


Evaldo da Veiga

Mãe quando é mesmo... Luz bendita iluminando os filhos.
Não basta parir para ser mãe, no sentido maior, longe disso.
Tem mulher que nunca deu a luz, mas que soube iluminar 
a vida de uma criança e o seu avanço pelo caminho.
Está chegando o dia das mães, mais uma vez. O movimento, 
o alarde, é maior é no sentido comercial. Mesmo assim não afasta 
a áurea sublime que envolve as mães; paira no ar sublime emoção.
Tem mãe que entra no clima insuflado pela comemoração, e até pensa, de verdade, que é mãe linda no nos termos exato da Poesia.
Tem mãe que sempre busca ser mãe de si mesmo, no favorecimento,
Mãe tipo 171, plena de chantagens emocionais.
Neste período consagrado às mães, mudam a entonação da voz, 
ritmo de ternura e até adquirem um verniz de paciência. 
EITA MÃE DE IMPROVISO!
Mas a mãe de verdade, que lindo.
Conheço bem essa questão porque minha mãe é uma vigarista emocional
 que atua no primeiro time. Voltando a questão de parir ou não, 
conheço mães bacanas sem ter parido e algumas são até virgem.
Lógico que não estou fazendo alusão à Virgem Maria, 
porque essa eu penso que foi mãe biológica sem prejuízo 
de nenhum dos dois, mãe e filho.
Gosto muito de Jesus, não pelo o que dizem os lideres religiosos, longe disso. 
Até penso que muito do que dizem até arranha a imagem do Belo Jesus.
Mas falar de mãe no aspecto belo e maneiro, isso pra mim não é nada difícil, conheci mães maravilhosas.
Espírito de doação, camaradagem, companheirismo, adequada vigília 
(aquela que não invade, não incomoda, orienta no sentido de evolução, 
com ternura amiga).
Pra ser mãe nem precisa ser mulher, e essa convicção quem me traz é a lembrança da minha Galinha Leka: minha amiga, companheira, 
que seguia meus passos em todos os cantos do quintal. 
Às vezes entrava na sala com o chão encerado 
o que incomodava muito a minha mãe, e Leka se fazia de desentendida,
 continuava a entrar na sala para estar ao meu lado.
Leka, ao contrário da minha mãe, deixou-me várias recordações lindas, 
de coragem e altruísmo. Uma colega dela, de quintal, estava chocando e foi assassinada, creio que nesse caso por equívoco da minha mãe, 
que não sabia que ela estava choca. Leka assumiu o posto, 
e começou ser mãe chocando os ovos. Sem experiência anterior, 
mas com plena dedicação, criou os pintinhos e se alguém se aproximava, principalmente minha mãe, ela atacava; somente eu e meu pai éramos da sua confiança. Dava gosto vê-la enfrentando minha mãe...
 A diferença de força física era em favor da minha mãe, 
mas Leka amava a verdade, amava o amor. Tinha mais autoridade moral.
Minha mãe disse pra mim e minha irmã, eu com 5 e Maria Lúcia com 7 anos,
que quando ela morresse meu pai poria uma amante em casa 
que nos bateria e nos deixaria com fome. 
Repetiu isso durante muito tempo. Minha irmã que nunca viu e nem tinha informação confiável da existência de uma amante, 
muito menos que ela seria má e nos bateria, 
criou revolta contra o meu pai e essa revolta
foi sendo alimentada por minha mãe. Minha mãe nunca conversou com agente. 
Só dizia que não sabia como ainda estava em pé, 
reclamava de todas as dores que não sentia. 
Terminado a tarefa ia conversar na cerca que dividia as casas, 
com as vizinhas. Um dia minha disse que estávamos acabando com a vida dela, era trabalho para fazer comida, lavar roupa, limpar o chão... 
E que o médico só lhe deu um mês de vida. Minha irmã não sei como se sentiu, não discutimos o assunto, mas eu me senti um assassino antecipado; 
um assassino sem o corpo da vítima. 
Fiquei esperando a morte da minha mãe e os dias se arrastavam; 
eu não sabia se faltava muito, ou se já tinha passado o dia
em que se daria o falecimento Passei momentos bem tristes 
tentando entender à morte, sua chegada, por que ela vinha 
e por que deixava de vir.
Conheci muitas mães maravilhosas e conheço muitas até hoje. Não acho simpático o meu desafabo nessa fase de comemoração, mas fui dizendo sem querer e acabei por dizer o que estava preso durante mais de 50 anos, verdades.
Mas em terminado com lembranças lindas, lembro de Leka que nunca saiu da minha lembrança. EITA MÃE DE VERDADE!
Além de sincera, companheira e amiga.

evaldodaveiga@yahoo.com.br