Na cama a cama

Na Cama.

Jorge a beija na boca, Clarice acorda. Amam-se. Conversam e logo cedo já sorriem. Acordam os filhos e todos tomam o café. Há um mau humor matinal entre os irmãos: Não se falam, quase não se olham e muito menos se encostam. Somente escutam.

Tenham um bom dia.

No trabalho.

Ele obedece engolindo e se deixa não contestar. Clarice é chefe e esposa dele. Ela inicia assuntos do lar no serviço. Pergunta sobre a cor do piso da cozinha e se tem alcatra congelada. Jorge evita plenamente e sempre se ocupa com algo. Clarice insiste na hora do almoço. Fala da babá, do vizinho e sobre os filhos. Ele parece fingir não escutar durante o jornal de esportes. Assim segue por todo expediente. Ela fala. Ele flui.

Fim do dia.

Nas tulipas.

Jorge bebe um gole de chope e fala mal de Mauro, do financeiro. Ela acende um cigarro e cantarola uma música, que toca no fundo do bar, quase inaudível e dissimula. Ele continua falando. Acha algo errado, aconselha outro, sustenta palpites dispensáveis e sentencia a secretária Letícia. Clarice absorve entre cigarros e idas ao banheiro. Ele insiste. Ela vira o copo.

Vão embora.

Em casa.

Banhos tomados. A mesa da copa coberta com pano estampado, seis cadeiras e uma desocupada. O filho do meio reclama, pois odeia estudar. O caçula chora, e diz que não vai comer aquela "coisa verde". A primogênita, de piercing, bufa e perde o apetite. Eles conversam e tentam aconselhar a ninhada. Resolvem alguns e adiam outros problemas. Talheres cruzados e pratos vazios.

Nem todos.

Das nove

Eles interagem entre conversas e sorrisos. O pirralho brinca com bonequinhos, e faz sonoplastia com a boca de murros e pontapés. Já o filho-sanduíche, deitado de barriga pro chão, continua reclamando, desta vez, dizendo não entender nada de sujeito, predicado e muito menos de artigo, ainda mais indefinido. A adolescente bate papo na internet e arruma o cabelo, a cada minuto, na frente da webcam.

Televisão desligada.

À cama.

Eles trocam olhares, conversam, ainda conseguem rir e se amam. Clarice e Jorge trocam alguns “eu te amo” e “eu também” e se despedem.

Boa noite!

Pai João
Enviado por Pai João em 10/05/2007
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