Paixão ou Intimidade?
Um bom casamento seria aquele em que esqueceríamos,
de dia que somos amantes e de noite que somos esposos.
Jean Rostand
de dia que somos amantes e de noite que somos esposos.
Jean Rostand
Eles acabam de se descobrir apaixonados. Delícia!
A voz dele ao telefone faz com que ela se derreta como um M&M na boca, ele sorri meio bobo, cada vez que sente o perfume dela. Cada minuto juntos é de êxtase. Cada segundo afastados dura uma eternidade e só serve de intervalo. Vive-se numa gangorra emocional, torturados pela insegurança e ciúmes, enlevados por qualquer demonstração de reciprocidade. Dorme-se mal, come-se pouco, nada tem sabor, quando comparado aos beijos trocados com gula. Para impressionarem um ao outro, há um sem fim de mimos e caprichos e, ao se encontrarem, bambeiam as pernas, um fogo invade o peito, o coração vem à boca e suspende a respiração. Tem coisa melhor?
Com o tempo, vem a intimidade. Sensação igualmente agradável, mas bem menos buliçosa. É um aconchego o estar juntos, compartilhar segredos, conviver. Ele já sabe o que ela gosta à mesa, pode ir adiantando o pedido, se ela se atrasa para o almoço. Ela já não estranha mais o hábito que ele tem de colocar geleia de frutas na comida. Se o time dele perdeu, ela não vai ficar perguntando o que há de errado. Ele sabe que é prudente redobrar os cuidados para que a TPM dela passe logo, sem sequelas.
A intimidade é bem mais confortável, mas pode nos levar ao descuido. Deixa-se de lado o romantismo, as pequenas e adoráveis atenções. Tudo é previsível. Até o fazer amor torna-se rotineiro. Este momento pode demonstrar desinteresse e levar grandes amores à bancarrota. Tenho um amigo que defende a teoria de que os casamentos deveriam acabar aos cinco anos, para que os amantes não assistam à derrocada dos sentimentos. Em parte, ele tem razão. Precisamos de emoção, de encantamento, de romantismo, surpresas. Não há amor que sobreviva sem que se sinta interessante, sem que se perceba no outro o prazer em estar juntos...
E o que fazer para que a intimidade não traga em si o vírus do desamor?
Pois é. Não há fórmula secreta.
Talvez, esta seja a fase seguinte nos relacionamentos: a caça ao tesouro, onde o casal busca o seu caminho, a sua maneira de avivar o amor, enquanto coleciona as bodas de prata, ouro, diamante...
Texto publicado no Jornal Alô Brasília de 16/05/2014, republicado do texto homônimo, publicado neste Recanto das Letras em 12/10/2008.