Alienistas enferrujando Machado
“Se clamares por conhecimento, e por inteligência alçares a tua voz,se como a prata a buscares e como a tesouros escondidos a procurares, então entenderás o temor do Senhor, e acharás o conhecimento de Deus. Porque o Senhor dá a sabedoria; da sua boca é que vem o conhecimento e o entendimento. Ele reserva a verdadeira sabedoria para os retos. Escudo é para os que caminham na sinceridade,” Prov 2; 3 a 7
Nesse caminho para encontrar a sabedoria proposto por Salomão temos um consórcio Divino-humano que vale à pena considerar. O homem pedindo, buscando, procurando, e o Senhor legando-a. Além de orar demanda agir. Predica a sabedoria como proteção, escudo, e condiciona sua doação à retidão.
Mas, como se procura um tesouro ? Jó ensina: “Na verdade, há veios de onde se extrai a prata, e lugar onde se refina o ouro. Abre um poço de mina longe dos homens, em lugares esquecidos do pé; ficando pendentes longe dos homens, oscilam de um lado para outro. Essa vereda a ave de rapina a ignora, e não a viram os olhos da gralha. Nunca a pisaram filhos de animais altivos, nem o feroz leão passou por ela. Ele estende a sua mão contra o rochedo, e revolve os montes desde as suas raízes. Dos rochedos faz sair rios, e o seu olho vê tudo o que há de precioso.” Jó 28; 2, 4 e 7 a 10
Temos um mineiro escavando lugares profundos, escuros, inóspitos, em busca de preciosidades. Assim como coisas profundas, o conhecimento de Deus demanda uma busca intensa, apaixonada; mesmo o favor, aliás, deve ser assim. “E buscar-me-eis, e me achareis, quando me buscardes com todo o vosso coração.” Jr 29; 13
Ele reclamava da superficialidade leviana mediante Isaías; “…Pois que este povo se aproxima de mim com a sua boca, com seus lábios me honra, mas o seu coração se afasta para longe de mim…” Is 29 13 Em Oseias usa uma metáfora sobre o mesmo tema: “Que te farei, ó Efraim? Que te farei, ó Judá? Porque a vossa benignidade é como a nuvem da manhã e como o orvalho da madrugada, que cedo passa.” Os 6; 4 O Salvador em seus dias constatou que nada mudara; “Hipócritas, bem profetizou Isaías a vosso respeito, dizendo: Este povo se aproxima de mim com a sua boca e me honra com os seus lábios, mas o seu coração está longe de mim.” Mat 15; 7 e 8
Assim como joalherias, bancos e lugares afins que abrigam coisas de valor são cercados de seguranças, cofres, detectores de metais, redomas e demais cuidados, os bens espirituais, dado seu imenso valor merecem cuidado. Por isso Deus só dispensa tais dons aos retos, pois, esses, farão o devido uso das joias Divinas. Então, antes da sabedoria vem a integridade; dons espirituais sucedem à obra da cruz. Qualquer pretenso atalho, facilidade, fatalmente descambará noutra “sabedoria” que Tiago aludiu: “Essa não é a sabedoria que vem do alto, mas é terrena, animal e diabólica.” Tg 3; 15
A vulgarização, a facilitação das coisas está bem de acordo com o espírito do mundo atuante em nosso tempo. Qualquer vagabundo ativo em manifestos de protesto, seja sem terra, sem teto, sem vergonha, sem noção, mesmo que saia quebrando tudo, desrespeitando autoridades, instituições, vira “cidadão” e ganha uma audiência com a Presidente. Não ignoro a existência veraz de demandas de gente séria, mas, esses servem de massa de manobra aos primeiros por razões espúrias.
Agora, a cereja na torta do prêmio à indigência mental, do estímulo à preguiça; certa professora vai “traduzir” o clássico de Machado de Assis, “O Alienista” para uma “linguagem popular” para facilitar a compreensão dos alunos. Ora, as palavras rebuscadas das obras clássicas, ou, mesmo obsoletas, devem ser conhecidas para enriquecimento de quem aprende. Para quê servem os dicionários?
Pior, a coisa será patrocinada pelo Governo Federal com tiragem de 600 mil exemplares. Nossos impostos, pois, serão usados para estimular o emburrecimento nacional. Vulgarizar Machado de Assis não é simplificar, mas, macular, enxovalhar. Quem sabe “facilitamos” um pouco mais traduzindo para o Internetiquês? Vai c d+!
Ora, o esforço, o trabalho justificam os frutos e aperfeiçoam caracteres. Mas, depois de escolhermos analfabetos para nossos superiores, nada mais natural que o analfabetismo vire lei.
Desconfio que alienista seja a iniciativa, tal qual a “correção’ do ENEM aquela que ignora erros crassos. Formada uma geração alienada, cega, eles com seu único olho, o esquerdo, seguirão sendo reis.
Que as coisas de valor sigam tendo preço justo e os ociosos aprendam o labor. “O preguiçoso não lavrará por causa do inverno, pelo que mendigará na sega, mas nada receberá.” Prov 20; 4