Botando a Mãe no Meio
"Mas se alguém me desafia e bota a mãe no meio
Dou pernada a três por quatro e nem me despenteio"
Chico Buarque
Mamãe dizia: "brincadeira de homem cheira a defunto". Naquela época, fazia sentido: honra lavava-se com sangue. Hoje, afrancesaram os costumes e nem se usa mais lavar nada. Às partes muito encardidas ou que já cheiram mal, esfrega-se um lencinho embebido em água de colônia e pronto. Não limpa, continua recendendo a esgoto, mas ninguém liga.
Mas, mãe... Ah! Não! Mãe é instituição sagrada e quer ver um sujeito ficar macho, é botar a mãe no meio.
Sabendo disso, quando se quer mesmo desacorçoar alguém, ataca-se logo sua genitora.
Duvida?
Onze mães em dez vão sugerir empregos mais perigosos ou humilhantes a seus filhos, inclusive o magistério(ops!), se eles cogitarem seguir a carreira de juiz de futebol.
Político, então!? Qualquer mãe fará de tudo para demover uma criança dessa ambição. Pena que nem sempre conseguem e eles estão aí, para vilipendiar a pobre figura materna. À sua, e também à de nossa amada, idolatrada - salve! salve! - pátria mãe.
Entre amigos, porém, a coisa fugiu do controle. Perde-se o amigo, o emprego e o casamento, mas não se perde a oportunidade da piada:
- Sapatinho feio, esse seu, hein?
- Presente da sua mãe, aquela gostosa!
- Tu tá gordo, cara!
- Sua mãe nunca reclamou do peso.
É só brincadeira, claro! Mas a mágoa fica. E enseja vingança.
Luiz caminhava com a mãe, quando encontraram Joca. Nem bem terminaram as apresentações e ele disse:
- Ah, mãe! Esse é o meu amigo diz que ó - e faz o gesto característico - na senhora.
Joca arregalou os olhos, engasgou-se, tossiu desesperado.
Dona Laura, já avisada da brincadeira, não se alterou:
- É mesmo, filho? E é bom?
Em completa afasia, Joca ainda analisava as possíveis rotas de fuga quando Luiz veio ao seu socorro, deu-lhe palmadas nas costas, até o sufocamento passar.
O coitado tentou se desculpar, desmentir o amigo, mas sua voz sumiu sob as gargalhadas dos dois.
Dona Laura, literalmente vingada, sabe que, por algum tempo, ele não faltará ao respeito com a mãe de mais ninguém.
Só por algum tempo: Brasileirão, Libertadores, Copa do Mundo e, pra piorar, este ano tem eleições...
Até lá, vivam elas! Feliz dia das mães!!
Texto publicado no jornal Alô Brasília de 09/05/2014, republicado do texto homônimo publicado em 11/04/2008, neste Recanto das Letras.
Mas, mãe... Ah! Não! Mãe é instituição sagrada e quer ver um sujeito ficar macho, é botar a mãe no meio.
Sabendo disso, quando se quer mesmo desacorçoar alguém, ataca-se logo sua genitora.
Duvida?
Onze mães em dez vão sugerir empregos mais perigosos ou humilhantes a seus filhos, inclusive o magistério(ops!), se eles cogitarem seguir a carreira de juiz de futebol.
Político, então!? Qualquer mãe fará de tudo para demover uma criança dessa ambição. Pena que nem sempre conseguem e eles estão aí, para vilipendiar a pobre figura materna. À sua, e também à de nossa amada, idolatrada - salve! salve! - pátria mãe.
Entre amigos, porém, a coisa fugiu do controle. Perde-se o amigo, o emprego e o casamento, mas não se perde a oportunidade da piada:
- Sapatinho feio, esse seu, hein?
- Presente da sua mãe, aquela gostosa!
- Tu tá gordo, cara!
- Sua mãe nunca reclamou do peso.
É só brincadeira, claro! Mas a mágoa fica. E enseja vingança.
Luiz caminhava com a mãe, quando encontraram Joca. Nem bem terminaram as apresentações e ele disse:
- Ah, mãe! Esse é o meu amigo diz que ó - e faz o gesto característico - na senhora.
Joca arregalou os olhos, engasgou-se, tossiu desesperado.
Dona Laura, já avisada da brincadeira, não se alterou:
- É mesmo, filho? E é bom?
Em completa afasia, Joca ainda analisava as possíveis rotas de fuga quando Luiz veio ao seu socorro, deu-lhe palmadas nas costas, até o sufocamento passar.
O coitado tentou se desculpar, desmentir o amigo, mas sua voz sumiu sob as gargalhadas dos dois.
Dona Laura, literalmente vingada, sabe que, por algum tempo, ele não faltará ao respeito com a mãe de mais ninguém.
Só por algum tempo: Brasileirão, Libertadores, Copa do Mundo e, pra piorar, este ano tem eleições...
Até lá, vivam elas! Feliz dia das mães!!
Texto publicado no jornal Alô Brasília de 09/05/2014, republicado do texto homônimo publicado em 11/04/2008, neste Recanto das Letras.