Crônica 127: INTOLERANTE CONVIVÊNCIA

INTOLERANTE CONVIVÊNCIA

Crônica 127

_ Não se preocupe! Só quero um lugar ao sol.

E assim vai, pouco a pouco, explorando os arredores de sua frágil e remanescente raiz. Sem perceber, o limoeiro, laranjeira, tangerineira, pitangueira, amoreira, parreira, jabuticabeira, roseiral e até mesmo as tenras bananeira vão perdendo terreno para o gramado que os sufoca até não mais resistirem.

_ Auto, lá, Tiririca! Está invadindo minha privacidade! Chispa já daí!

_ Calma, Sr. Ananás! Com esta vistosa coroa, Vossa Majestade é o rei dessas paragens! É muito mais que um simples abacaxi. Seu humilde súdito só quer mesmo lhe honrar ao espalhar sua servil ramagem a decorar vossos arredores. Um tapete digno de vossa realeza!

_ Bom, se é assim... Esteja à vontade, mas nada de roubar a cena. O rei daqui sou eu!

E foi-se a rotunda conquistando mais e mais terreno. Espalha-se lançando complexa malha em todas as direções. Raízes bulbares garantem-lhe a sobrevivência permanente na área, o que permite ressurgir firme e forte após longo período de estiagem. Grama Esmeralda não resistiu e, em pouco tempo, sucumbiu. Parreira, coitada! Já se podia ver os primeiros rebentos de uva. O proprietário todo prosa. De repente, Parra perde o viço, atrofia e morre. Depois foi a vez de Amora seguida de Pitanga, Plínia. Em seu lugar, crescem outras pragas: picão, cansanção, rebenta-boi, beldro égua, bredo e outros espécimens.

A falta de cuidado rouba a beleza e a própria existência. Zelo pela saúde e estética são de igual importância e valem uma vida cheia de vigor. Devemos cultivar bons hábito que enriquem e fortalecem nosso viver. O sedentarismo é como a erva, dita, daninha que aos poucos se alastra e nos sufoca roubando o brilho e a alegria de gozar a vida.

Punky, nossa cadela, diariamente cultiva o hábito de se espojar na grama a se aquecer aos primeiros raios da manhã. Ninguém a ensinou, mas todos os dias lá está ela a tomar seu banho de sol. Lembro-me que eu, quando criança, gostava de fazer isso, ao passar minhas férias em Missão Nova, na Vila Joaca Rolim. Levava a cadeira preguiçosa para o terreiro, próximo ao frondoso juazeiro e, já às cinco e meia da manhã, esperava o nascer do sol que nos brindava com belíssimo arrebol e salutar calor a fortalecer meus tenros ossos. Então com minha pijama: "Preciso tirar o mofo e voltar ao indispensáveis banhos de sol!"

De volta para a cidade, só os raios que nos banhavam enquanto íamos ou vínhamos da escola. Assim vamos perdendo salutares hábitos, cultivamos descasos que nos renderão futuramente uma série de complicações que, na certa, iremos colher na dita melhor idade.

Sem perceber, fadamos à morte o jardim de nossa vida. As pragas progridem de tal modo que nos obrigamos a cimentar ou concretar o outrora pleno de vida, agora um verdadeiro jardim da saudade. Resta-lhe uma singela lápide onde se pode ler, mesmo sem letras: “Aqui jaz um belo jardim, outrora viçoso, cheio de vida!”

Lamentavelmente há pessoas que assim agem. Por sua mediocridade, pensam apagar a luz dos outros para que a sua possa brilhar. Mesmo assim não conseguem ultrapassar o nulo esplendor de densas trevas.

O Mestre Yeshua nos ensina básica lição. Não podemos amar alguém, em hipótese alguma se não amarmos a nós mesmo. Tenho profunda dificuldade de aceitar ser tratado por médico que se alcooliza ou fuma feito uma caipora. Pois, se não consegue se cuidar, como cuidará de mim?

Zelemos melhor da nossa saúde que é a evidente essência de nosso maior patrimônio, a vida.

Alelos Esmeraldinus
Enviado por Alelos Esmeraldinus em 04/05/2014
Reeditado em 05/05/2014
Código do texto: T4793429
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