Miguelito e o Chumbinho.
Moleque realmente é uma raça a parte na criação de Deus, só pode ser isso, ou então é bicho que veio de outro planeta, outro sistema solar, outra galáxia, ou da puta que o pariu, mas realmente é uma raça que se deixar de rédea solta, toca fogo no mundo. E como não poderia deixar de ser diferente, com a graça divina, eu consegui ser moleque e fazer jus a raça a que pertencia.
A história que agora vos narro se passou quando eu tinha por volta de uns 11 anos de idade, morávamos em uma casa que sempre estava repleta de muita gente, parentes ou não, a casa estava sempre cheia, nesse dia por volta das 10:00 da manha, meu primo Miguel, que carinhosamente chamávamos de Miguelito, chegou em casa, ele já era mais velho, deveria ter por volta de uns 16 anos, já era moleque doido e nesse dia apareceu por lá com uma espingarda de chumbo, quando vi a espingarda em sua mão, meus olhos brilharam, pulava, puxava da mão dele, dizia que queria atirar, mas, como se já estivesse prevendo a cagada que se avizinhava, se negava em me entregar a arma de “brinquedo”, mas como disse, eu era moleque, e daqueles bem chatos, de tanto insistir, ele disse para mim, - Caracas , moleque, toma essa porra e não enche mais o saco, mas toma cuidado! Claro que disse que tomaria todo cuidado do mundo e já falava sorrindo, não sabia nem segurar a espingarda direito, não tinha força nem para armar o golpe.
Bem, fui para o quintal e comecei a atirar feito um doido, só que o chumbinho acabou, pois o Miguellito que não era besta nem nada, me deu só um pouquinho de chumbo e quando acabou, ele prontamente queria tirar a arma de mim, mas eu não me entreguei tão fácil, agora já estava acostumado e corri para o fundo do quintal, ele desistiu e me deixou por lá mesmo, fiquei matutando em como conseguir mais chumbinho, não teve solução, coloquei pedrinha no cano, pequenos carocinhos de fruta, mas nada era igual ao bendito do chumbinho, já estava desolado e já ia entregar a belezura para ele, quando de repente, tive uma tempestade de ideias , daquelas brain storm. Daquelas que só moleque consegue ter, me lembrei que na geladeira, tinha uns confeitos de bolo, que haviam sobrado de um aniversário, eles eram redondinhos, cabiam certinho no cano e tinham uma resistência a pressão da arma, não deu outra, passei a mão no saquinho que ainda estava quase cheio e passei a atirar novamente, era calango correndo para todo lado, os passarinhos passavam longe, puts, foi um festival de tiros.
Quando já estava cansado e já ia entregar a arma para o Miguelito, eis que surge um passarinho bem na minha frente, fiz a mira e já ia disparar, quando o cão me fez olhar para dentro de casa e vi aquela costa enorme, nuazinha, sem camisa, pedindo para eu atirar, puta que pariu, não deu outra, sentei o dedo no gatilho e foi certeiro na costa do Miguelito, rapaz...esse pequeno deu um pulo, gritava ai, ai, ai, ai, esta queimando titia, esta queimando, porra não sei o que me deu, coisa doida, de moleque doido, eu ria da situação, rolava pelo chão, enquanto o Miguelito gritava de dor.
Esqueci de dizer que ele tinha ido até em casa, para vender o rifle de ar comprimido e que a Tia Velma, ia comprar para mim e para o Marcelo, meu irmão, ou seja, acabei ficando sem o presente, peguei uma bela de umas porradas e o pobre do Miguel, tem a marca do confeito até hoje nas costas dele. Detalhe, ele queria me dar porrada, só não fez porque gostava demais da gente e se desse era com razão.
Anos se passaram, o fato foi esquecido, crescemos e sempre amigos, cada vez mais irmãos, no entanto, um dia voltávamos de uma pescaria, numa cidade chamada Colares, trazendo os remos nas costas, tínhamos tomado umas boas de umas cachaças, quando de repente deu a doida de brincar de uma guerra de remos, começamos a tentar acertar um ao outro, quando ele deu uma bobeira, vapt, acertei o costão dele, caraca ficou assado na hora, mas ele era guerreiro e não se entregou, o ataque veio mais forte e quando pedi para parar, dei bobeira e coloquei meu dedo mindinho mal posicionado, o danado acertou em cheio e arrancou minha unha, caracas, muita dor e dessa vez o filho de uma égua, ria sem contas, me levou para o médico e mandou arrancar a unha, mas pediu para o médico dar para ele, o médico não entendeu, mas deu mesmo assim. Mas eu sabia porque ele tinha pedido o pedaço de minha unha, era o seu troféu, por conta do chumbinho de anos trás que ainda deveria arder em suas costas.