O CAIPIRA E AMAQUINA DE ESCREVER

Criado na roça, sem rádio, sem acesso as modernidades da cidade, eu não passava de um caipirinha, jeca. Feliz correndo entre as maravilhas da natureza, sem grandes ambições, e sem me preocupar com os acontecimentos do dia a dia. Tudo era mágico no meu mundo infantil, mas a cultura repassada pelas gerações que se sucediam afastava a criança da verdadeira realidade da vida. O conhecimento do mecanismo sexual era restrito aos adultos. Segundo os conceitos dos pais, a ordem natural do saber, no que se dizia a respeito do sexo, era insalubre aos filhos, e mantida numa redoma sigilosa que jamais deveria ser quebrada. Esses tabus de moralidade perduraram por longos anos na formação das famílias. Tivemos que aprender por nós mesmos o mecanismo da procriação do sistema de vida que povoa a terra. Palavras simples, que hoje são comuns não poderiam ser pronunciadas por pessoas de bem. As pessoas eram medidas e identificadas pelos gestos, e pela forma como se vestiam e se portavam principalmente as mulheres, muitas eram julgadas por seus modos e postura corporal.
Comecei a descobrir o mundo real, a partir do momento em que passei a frequentar a escola. O que ocorria quando a criança completava sete anos de idade.
Ah como eu admirei -, e fui feliz com minha adorada professora, dona Maria Guerra um anjo em forma de mestra, que influenciou de maneira positiva a formação de minha personalidade.
Quando na sala de aula, ela nos mostrou uma folha de papel datilografada, e nos ensinou algo a respeito da maquina de escrever, dizendo que no futuro ela substituiria o lápis e a pena com a caneta tinteiro, fui tomado por um desejo enorme. Meu sonho era ver meu nome escrito com aquelas letras datilografado a maquina. Sonho bobo de criança da roça, que via magia em tudo, criando mil fantasias com as modernidades que foram surgindo no decorrer do tempo. Sonho que perdurou até minha adolescência.
Mais tarde trabalhando numa maquina de beneficiar arroz de propriedade de meu pai, não sei por qual motivo, ele mandou confeccionar os blocos de notas, que lá eram utilizados, em meu nome. Eu ri de mim mesmo imaginando será que papai adivinhou meu desejo de criança e só agora realizou meu sonho. Impossível, esse foi um segredo só meu, e eu, o guardei a sete chaves... Ah como era bom e gostosa a ingenuidade de uma criança da roça, podendo se contentar com tão pouco!
 
Geraldinho do Engenho
Enviado por Geraldinho do Engenho em 23/04/2014
Reeditado em 28/04/2014
Código do texto: T4779789
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