APRENDENDO COM TOM ZÉ
Tom Zé numa entrevista fala do seu espanto ao ver pela primeira vez, jorrar água duma torneira e do assombro quando conheceu a luz elétrica. Eu não tive esse choque. Nasci no meio do mato, tomava banho no riacho, na poça da tia Zaia, no caldeirão das cabras... E, lia à luz de candeeiro. Sim, porque durante o dia não podia ler, pois estava trabalhando na enxada. Quando finalmente vim conhecer a cidade e junto, a luz elétrica, a televisão e a água encanada, já estava com meus oito anos. Mas não fiquei estarrecido. Acho que nem prestei atenção, não me dei conta da importância desses "fenômenos", pois não lembro de nenhuma reação. Hoje, cinquenta anos depois e algum tempo depois da entrevista, me dei conta de que o que sobrava ao garoto Tom Zé faltava a mim: curiosidade! Nunca fui curioso com certas coisas. Aprendi que quem inventou a lâmpada foi Thomas Edson e que a água era a composição de duas partículas de hidrogênio e uma de oxigênio. Aprendi por interesse e não por curiosidade ou pela importância. Quero dizer que se eu decorasse a pergunta, ganharia um pedaço de rapadura. Oferta de Raimundo Souza, meu avô, que queria um neto sabido. Não tinha mimo melhor. Fora isso, preferia ficar escondido entre os galhos do umbuzeiro, perto da poça da tia Zaia, ou na moita próximo do riacho, pra na hora que as meninas fossem tomar banho, eu ficar sabendo o que elas tinham por baixo do vestido de chita. Isso eu queria aprender. Não sei se aprender assim é bom ou ruim. Pra mim foi ruim. Se você aprender algo a troco de banana como um macaquinho nunca vai evoluir. Pode até saber onde fica a rua Augusta, a avenida Angélica, a consolação... mas nunca vai saber por que elas têm essa denominação. Porque você só aprende se tiver curiosidade. Tom Zé aprendeu tudo. E eu só aprendi que o que tinha debaixo dos vestidos das meninas me impediu de aprender outras coisas. Até pra escrever esta crônica tive que apelar pro editor de texto do computador.
S. Paulo, 16/08/2011
www.cordeiropoeta.net
Tom Zé numa entrevista fala do seu espanto ao ver pela primeira vez, jorrar água duma torneira e do assombro quando conheceu a luz elétrica. Eu não tive esse choque. Nasci no meio do mato, tomava banho no riacho, na poça da tia Zaia, no caldeirão das cabras... E, lia à luz de candeeiro. Sim, porque durante o dia não podia ler, pois estava trabalhando na enxada. Quando finalmente vim conhecer a cidade e junto, a luz elétrica, a televisão e a água encanada, já estava com meus oito anos. Mas não fiquei estarrecido. Acho que nem prestei atenção, não me dei conta da importância desses "fenômenos", pois não lembro de nenhuma reação. Hoje, cinquenta anos depois e algum tempo depois da entrevista, me dei conta de que o que sobrava ao garoto Tom Zé faltava a mim: curiosidade! Nunca fui curioso com certas coisas. Aprendi que quem inventou a lâmpada foi Thomas Edson e que a água era a composição de duas partículas de hidrogênio e uma de oxigênio. Aprendi por interesse e não por curiosidade ou pela importância. Quero dizer que se eu decorasse a pergunta, ganharia um pedaço de rapadura. Oferta de Raimundo Souza, meu avô, que queria um neto sabido. Não tinha mimo melhor. Fora isso, preferia ficar escondido entre os galhos do umbuzeiro, perto da poça da tia Zaia, ou na moita próximo do riacho, pra na hora que as meninas fossem tomar banho, eu ficar sabendo o que elas tinham por baixo do vestido de chita. Isso eu queria aprender. Não sei se aprender assim é bom ou ruim. Pra mim foi ruim. Se você aprender algo a troco de banana como um macaquinho nunca vai evoluir. Pode até saber onde fica a rua Augusta, a avenida Angélica, a consolação... mas nunca vai saber por que elas têm essa denominação. Porque você só aprende se tiver curiosidade. Tom Zé aprendeu tudo. E eu só aprendi que o que tinha debaixo dos vestidos das meninas me impediu de aprender outras coisas. Até pra escrever esta crônica tive que apelar pro editor de texto do computador.
S. Paulo, 16/08/2011
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