Parceiros na Aridez Cruel

O sol lhe fazia penitente, por uma terra sem sombras e guaridas.
A saliva que ainda lhe sobrava é o que dava condição de vida.
Veio a mente quente pelo escaldante sol, a terna lembrança de Tereza, morena bonita e faceira, a quem prometeu casamento, mas, não pode cumprir a promessa, modo a pobreza que instalou no local.
Lembrava também do amigo Raimundo Nonato, parceiro nas matinês dominicais no forró de Zé do Gordinho.
Mas que importância tinha isso agora, quando a fome lhe batia.
Num tem nem palma para dá pro gado, assim Severino dizia...
Carregando seu embornal e sua velha espingarda cartucheira, lá adiante avista uma ave!
-Será um carcará, ou uma coruja dormindo?
Comida á vista, pensa ele!
De ponta de dedos, meio que flutuando pela terra esturricada, aproxima para poder atirar.
Mas, como o azar tava já de pareia, vê que é um urubu.
-Xô, xô, urubu, eu to vivo!
Exclama bravamente Severino, exaltando com a ave de rapina.
O urubu, essa ave agourenta, que até parece ter poder; vira e fala pra Severino: - Não tem problema, to esperando você morrer!

Jayme Tijolin
Enviado por Jayme Tijolin em 06/05/2007
Reeditado em 30/11/2011
Código do texto: T477402
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