Parceiros na Aridez Cruel
O sol lhe fazia penitente, por uma terra sem sombras e guaridas.
A saliva que ainda lhe sobrava é o que dava condição de vida. Veio a mente quente pelo escaldante sol, a terna lembrança de Tereza, morena bonita e faceira, a quem prometeu casamento, mas, não pode cumprir a promessa, modo a pobreza que instalou no local. Lembrava também do amigo Raimundo Nonato, parceiro nas matinês dominicais no forró de Zé do Gordinho. Mas que importância tinha isso agora, quando a fome lhe batia. Num tem nem palma para dá pro gado, assim Severino dizia... Carregando seu embornal e sua velha espingarda cartucheira, lá adiante avista uma ave! -Será um carcará, ou uma coruja dormindo? Comida á vista, pensa ele! De ponta de dedos, meio que flutuando pela terra esturricada, aproxima para poder atirar. Mas, como o azar tava já de pareia, vê que é um urubu. -Xô, xô, urubu, eu to vivo! Exclama bravamente Severino, exaltando com a ave de rapina. O urubu, essa ave agourenta, que até parece ter poder; vira e fala pra Severino: - Não tem problema, to esperando você morrer! |