Indignação

Segundo a Wikipédia, Solidão é um sentimento no qual uma pessoa sente uma profunda sensação de vazio e isolamento. E é essa sensação que me toma quando observo a sociedade como um todo. Quando observo nossa estrutura de vida e Estado, nossa política e toda a incompreensão de um povo que prefere se alienar, que prefere não ver, para poder, talvez mediocremente, reclamar enquanto toma uma cerveja no bar da esquina. Somos brasileiros e desistimos antes mesmo de começar, antes mesmo de tentar. Somos brasileiros, mas fechamos os olhos para não ver nada além da fila do SUS e dos intermináveis engarrafamentos. Somos brasileiros e gostamos, e sentimos prazer na indignação, mas não somos brasileiros para lutarmos pela nossa causa. E não é por falta de motivos que não lutamos... é por comodismo. Como diz aquela letra dos Engenheiros do Hawaii - É mais fácil fazer como todo mundo faz, Sem sair do sofá, deixar a Ferrari pra trás. É mais fácil, como todo mundo faz. O milésimo gol sentado na mesa de um bar. Sim, o Brasil é o País do futebol, mas em minha opinião, é por que é muito mais fácil bater no peito e dizer que é penta sem ter corrido 90 minutos. Deveríamos vibrar em outra freqüência, dançar no silêncio e chorar no carnaval, mas não... Não desistimos nunca, do sofá, do bar e do carnaval. Eu sentiria alegria se visse seriedade no grito “NÃO VAI TER COPA!”

Em uma entrevista, Papa Francisco definiu acertadamente –“Vivemos em uma sociedade excludente, uma sociedade que exclui os extremos”. Não há espaço para velhos demais ou jovens demais no capitalismo que vivemos. Quer ser bem sucedido? Tenha a idade certa, tenha tido as oportunidades certas, tenha a educação exata, esteja no lugar certo, na hora certa, com a indicação certa e Talvez alcance, ou chegue perto do topo. Se não for assim, venha fazer parte do povo! Pois como diz aquele vídeo “Nada a declarar de Acioli”. Povo são os pobres, os ricos e intelectuais desse país são outra coisa. Em uma sociedade excludente, que nos define quase que em sistema de casta, o topo vive em uma realidade virtual, em um mundo inexistente para o povo, quase um Elysium dos cinemas! O outro extremo morre, simplesmente morre descartado, são o resto do mundo. É pra onde nós, a camada do meio do bolo, luta para não ir, mas eventualmente um ou outro de nós se acha lá sem saber como foi que aconteceu. E essa nada mais é do que a realidade estampada em nosso nariz, mas fazemos questão de não enxergar, fazemos questão de fingir que não existe. Quase como a história do peixe que perguntado como esta a água, responde: que água?

Mas somos uma democracia, não é!? Uma pequena noção sobre democracia seria: “baseia-se nos princípios do governo da maioria associados aos direitos individuais e das minorias. Todas as democracias, embora respeitem a vontade da maioria, protegem escrupulosamente os direitos fundamentais dos indivíduos e das minorias.” Então, na afirmação anterior vê-se igualdade e proteção. Na democracia a maioria decide o melhor caminho a tomar. No entanto, não é retirado da minoria liberdade e dignidade. Na minha visão, a democracia esta para por termos ao capitalismo excludente em que vivemos. Se bem administrado por nossos políticos sociais a democracia deveria excluir o extremo miserável do nosso sistema capitalista. Mas o que realmente vemos? É o que vejo em outro texto, o de Elisa Lucinda – “Tudo isso que está aí no ar: malas, cuecas que voam entupidas de dinheiro. Do meu dinheiro, do nosso dinheiro que reservamos duramente pra educar os meninos mais pobres que nós, pra cuidar gratuitamente da saúde deles e dos seus pais. Esse dinheiro viaja na bagagem da impunidade...” Não podemos mais! Eu não posso mais. De acordo com o site lista10.org o Brasil esta em 1º lugar entre os países quem menos dá retorno dos impostos pagos pela população. Até este momento (4 de abril de 2014), apenas neste ano já pagamos 451 bilhões de Reais em impostos. “Segundo pesquisa, a média mundial de custos extras é de 25% dos salários anuais cobrados em impostos. No Brasil, este percentual passa para 57,56%.”¹ Em 2010 estávamos em 14º lugar no ranking dos países com maior carga tributária no mundo. Impostos estes que deveriam ser investidos no nosso sistema único de saúde, na educação e lazer, em qualidade de vida para as classes baixas. E infra estrutura e renda para todas as classes, mas não é. Por que? A resposta eu vi nas palavras de um viral do youtube de Cidinha Campos – a corrupção esta no DNA dos brasileiros – Não só a ativa, mas também a passiva. Pois se tivermos a possibilidade de tirar algum de alguém, iremos tirar! Esta no âmago do brasileiro. Não voltar ao caixa pra dizer que o troco foi dado a mais. Ficar com o brinquedo do coleguinha, quando ele esqueceu na sua casa, fazer vista grossa aqui, abrir um pouquinho a mãe ali e tudo amenizado no codinome jeitinho brasileiro.

E a corrupção ativa que rouba escola de crianças e remédios de idosos, comida de famintos e oportunidades dos que moram no gueto, se alimenta da nossa passividade. As cuecas se enchem de dinheiro, os mensalões só são possíveis por que assistimos apáticos, nosso único movimento são os dos lábios para reclamar e nada mais. Dizer que não pode não vai mudar. Se em algum momento fomos realmente para rua, não deveríamos ter voltado para casa.

Mas me sinto só nesta visão, isolado em meus pensamentos, e incapaz. É triste dizer mas na pratica, a história do beija-flor que joga água com o bico em um incêndio florestal trás mais sensação de vazio do que de prático. Não me sinto fazendo nada. E este breve desabafo não vai passar de mais uma reclamação de mesa de bar, se só ficar aqui minhas palavras. Por isso recorro novamente a Elisa Lucinda: Pois bem, se mexeram comigo, com a velha e fiel fé do meu povo sofrido, então agora eu vou sacanear! Mais honesta ainda eu vou ficar! Só de sacanagem! Dirão: 'Deixe de ser boba! Desde Cabral que aqui todo mundo rouba!

E eu vou dizer: 'Não importa! Será esse o meu carnaval! Vou confiar mais e outra vez. Eu, meu irmão, meu filho e meus amigos. Vamos pagar limpo a quem a gente deve e receber limpo do nosso freguês. Com o tempo, a gente consegue ser livre, ético e o escambau. Dirão: 'É inútil! Todo mundo aqui é corrupto desde o primeiro homem que veio de Portugal!' E eu direi: 'Não admito! Minha esperança é imortal, ouviram? Imortal!' Sei que não dá pra mudar o começo, mas, se a gente quiser, vai dar pra mudar o final! – E escute o que vou dizer, se assumirmos essa postura independente dos outros... NÃO VAI TER COPA!

Edson Duarte
Enviado por Edson Duarte em 04/04/2014
Código do texto: T4756282
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