Crônica #120: REMOVENDO TODA SUJEIRA

REMOVENDO TODA SUJEIRA

Crônica #120:

Hoje pela manhã, lavei o meu carro. Apre!

Nunca imaginei que Pindóbia pudesse ser uma das cidades com maior índice de sujeira de Pindoba. E não é apenas no ninho de cobras, não! Esse mal se alastra por todas as vias públicas dentro e em seu entorno. Como todo bom Pindobeiro isso nos causa muito transtorno e profunda vergonha.

Lava-se o veículo com tanto desvelo e ainda se dá uma caprichada no polimento e pra que tudo isso? Passo pelas poças d'água com mui cuidado para não aspergir lama nos transeuntes ou nos colegas de volante. Então, passa um desastrado e aloprado da direção e me dá aquele banho de lama! Lá se foi o mimo que eu dera ao meu carro... O trabalho e empenho de quase uma manhã inteira foi-se embora num triz. Aí, me vem a vontade de dizer aquele palavrão, que não sei ou não faz parte do meu elenco.

Já pensou? Este ano temos a chance única, talvez de fazer a alternância do Poder Central e adjacentes, inclusive dos legisladores. Se perdermos essa oportunidade, talvez a história possa ser contada de forma triste e de grande remorso para os que tiveram a ocasião para agir, mas se abstiveram.

Voltando à lavagem, aprendi grandes e profundas lições nesse ato de simplesmente dar um especial trato no nosso quatro rodas. De posse de um pressurizador de água, fiz uma prévia lavagem sob uma pressão em torno de 2,5 Kg/cm². Esperava que isto fosse suficiente para remover toda e qualquer sujeira. Ledo engano. Por mais que eu espraiasse ou lhe afinasse o jato d'água, não consegui o intento que era dar uma limpeza de causar inveja. Insisti segunda demão de lavagem e nada. Então, peguei uma flanela e passei suavemente pelos locais onde permanecera a renitente sujeira. Pronto! Como num toque mágico, a chaparia do veículo ficou impecável.

Enquanto cantava ou assobiava e lavava Classic Gravatinha*, meditava em como fazer uma aplicação prática dessa situação. Percebi que, em nosso dia-a-dia, experimentamos algo semelhante em nossos relacionamentos, principalmente nas causas mais íntimas. Quanto mais tempo gastamos em não discutirmos e resolvermos nossas soluções pendentes, vão-se encrustando carepas de mágoas em nossas emoções e, já no fundo do coração, se aglutinam de tal forma que, ações triviais e sopapais, de chofre, por mais enérgicas ou bem-intencionadas que sejam, não resolverão o problema. Pode até sublimar, mas não logrará pleno êxito.

Geralmente será preciso descer do salto, se humilhar e, lenta e humildemente polir a área emocional com uma generosa porção de amor e perdão, para que as relações sejam restauradas. O ruim disso tudo é o sentimento de orgulho e ressentimento de que muitos resistem em se libertar. Para que relações sejam restabelecidas, se faz necessário um e outro cederem em suas emoções, para que tudo se resolva entre si. Perdão é renúncia do direito de se magoar e manter esse sentimento, às vezes até como escudo, para não reeditar o evento.

Tratemos com zelo nossos amigos, cônjuges ou familiares para não experimentarmos situações de atrito nem suas amargas consequências. Caso isto aconteça, lavemos toda a sujeira grossa, sem desprezar as mínimas manchas, principalmente estas por serem mais profundas e de difícil remoção, caso o autor dos arranhões ou atritos não se humilhe e dê o mais caprichoso e fino trato nessas pequenas e sutis avarias.

Que o Senhor D'us, o Eterno, abençoe cada um que aqui vier a ler.

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GLOSSÁRIO:

Gravatinha – expressão alusiva ao símbolo da Chevrolet, uma gravatinha ‘black-tie’ estilizada.

Pindóbia é a capital do fictício país Pindoba, uma pátria genérica e, como tal, é até possível alguém com ela se identificar.

Alelos Esmeraldinus
Enviado por Alelos Esmeraldinus em 02/04/2014
Reeditado em 04/04/2014
Código do texto: T4753485
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