Uma ideia e seus contornos.
É impossível desconsiderar as formas e a força de uma ideia quando seus contornos se aproximam com tamanha vitalidade e clareza. Uma solução e um suplicio. Algo que te arrasta, te puxa, te rasga e não te dá outra saída.
Uma força, uma onda que nasce dentro do peito e impulsiona todos os sentidos. Inebria a percepção e permite que por algum momento, pequeno que seja, nos percebamos mais do que um tijolo no grande muro que se desenha ao redor do mundo e entre as pessoas. Ocupando e desenvolvendo um papel pequeno e sem graça, metódico, que não nos exige buscar dentro dos abismos de nosso ser respostas para sua solução. Nenhum desafio, a não ser aquele de ser e parecer normal, levando uma vida baseada em um conceito esdrúxulo de normalidade. Acreditando que talvez a psicologia pudesse desconstruir todo esse aparato ideológico que em última instância nos leva somente a consumir, mais e cada vez mais, tentando em vão tapar o outro abismo, este, existencial, que se aprofunda a cada objeto consumido a qual expectativa criada não oferece forma. Mas não é esse o papel da psicologia, ela caminha em sentido contrário.
Provas e mais provas com o único objetivo de informar o quão limitado é o sujeito frente às respostas esperadas, e o verbo de viver vai se perdendo em formas, reestruturando e se desconstruindo mais uma vez. Como uma lava incandescente, como uma lama, uma argila. Se a alma é feita de lama, aspiramos ao mármore.
E a única ideia que me aludia naquele instante era a de ascender. Transcender àquilo tudo. E como toda ideia de formas, força e contornos que se aproximam com tamanha vitalidade e clareza, trazendo em si qualquer suspeita de ideal de justiça, eu cedia àquele movimento explosivo. Por um instante me sentindo parte de algo maior. Uma força em prol do bem que pudesse caminhar simultaneamente em várias partes do planeta, e já não era um simples tijolo no imenso muro da vida, pelo menos não naquele instante.