Deliciosos aborrecimentos do cotidiano amoroso
Terminamos e fui direto para uma ducha de água fria. Quando voltei Martha me olhava de cara feia.
O que foi? Não foi bom pra você? (Arguí, em tom de gracejo).
Nunca mais faça isso. (Advertiu-me ela, zangada).
O quê?
Ir tomar banho depois que a gente acaba de fazer amor.
O que tem isso? É só pra tirar o suor.
Mas não quero que faça mais isso, tá bom? Dá impressão que tô suja, fedendo, doente, sei lá...
Tira isso da cabeça, mozinho. Não é nada disso. Eu sempre tomo banho depois que a gente faz amor.
Mas você sempre dá um tempo. A gente relaxa primeiro, conversamos. Dessa vez você saiu correndo pro chuveiro, como se tivesse transado com um bicho nojento.
É o calor, estava suando em bicas, e o ar condicionado pifou, lembra?
Não me venha com desculpas...
Ah mozinho, para com isso. É coisa da sua cabeça.
Você tem nojo de mim?
Mas que pergunta é essa?
Afonso, responda, você fica com nojo de mim depois que a gente termina?
Mas é claro que não, mozinho. Ficou maluca?
Vou ficar maluca se você fizer isso de novo.
Não vamos brigar por banalidades, mozinho. (eu, tentando amenizar).
Pra mim não é banalidade nenhuma. É muito sério. Isso me aborrece, e muito.
Afonso, nunca faça mais isso, por favor!
Tá bom, mozinho! Pode ficar tranquila, nunca mais faço isso. (Disse eu, tentando apaziguar, pois temia que o caldo engrossasse).
Nisso ouvi a algazarra das nossas crianças atrás da porta. Era domingo de manhã e queriam ir ao parque como acertado anteriormente. Martha também ouviu e colamos nossos ouvidos na porta quando Juninho disse pra Verinha: “Papai e mamãe tão brigando.”
“Por quê?” Perguntou Verinha. “
“Não deu pra escutar direito, acho que a mamãe tá suja, fedendo, e o papai transou com um bicho nojento.
“Cruz!” (Fez Verinha) “O quê que é transar?”
“Também não sei...”
Caímos na risada, nos beijamos e partimos pro segundo tempo.
Detalhe: Não tomei mais banho naquele dia!