Acordar é preciso...

Existem pessoas que ainda não acordaram para viver, não porque estão dormindo ou sonhando, mas porque apenas (e tão somente) estão se enganando... Ou seja, não se permitem dar espaço à realidade e tudo quanto há para ser vivido... Preferem a ilusão, o 'mundinho dominado', sem nenhum contato com a realização, vivência e as coisas do coração....

A Poesia lida com vida tanto quanto um médico lida com o corpo humano... Com muitas diferenças, é claro! Sendo um diferencial de lidar os caminhos do Poeta: a alma humana e suas controvérsias, ilusões, contemplações, anseios, devaneios.... A medicina também lida com a alma, pois muitos alcançam cura no corpo quando a encontram na mente, na calma da alma... No resgate da fé: em si mesmo, no Criador...

Nesse mundo nosso, sem dúvida alguma, muitos seres estão doentes (no corpo também), pois, primeiramente, o estão em seu mais profundo interior... Onde as cargas da vida estão depositadas, 'esquecidas', amontoadas... Onde a apatia e a desistência velada têm sido gerentes... Gerentes do não agir, do não conduzir, do se enganar, do enganar os outros; gerentes do não querer saber, do não mais se importar, não mais se arriscar... Gerentes do mundo ilusório criado para não mais 'sentir dor'... Gerentes de um mundo paralelo onde tudo é só belo, onde tudo é fantasia, até mesmo o amor...

Mas, quem assim decidiu viver não percebe que - embora pareça que tudo está organizado, bem instrumentado e ninguém mais o poderá ferir, pois este 'mundo' está sob controle - neste mundo não há Vida!! Não há crescimento, nem amadurecimento, nem certezas reais... Só ilusões e nada mais!

Alguém afirmará: - Isso são defesas!!

- Não, não são!

- É estar em nada absorto, estar em vida, morto!

Mas, alguém perguntará:

- Para quê de outra forma viver, se o mundo e a vida são de 'morte'?

- Para ser inteiro e comandante de seu próprio ser, atuante na sua própria sorte! Para entender qual o objetivo de estar nesse mundo e... crer! Crer não nas pessoas (nem todas realmente são boas), mas em si mesmo; crer que sua presença no mundo é mais do que ocupar espaço! Crer que ainda há muito a fazer e, acima de tudo isso, crer que você é luz, é poder!

Muito tem sido declarado, dentro e fora da Poesia, que "um poeta é um fingidor"... Entretanto, muitos não entendem o que isso realmente quer dizer... Um poeta não é um fingidor consigo mesmo, ao contrário! Mas, um fingidor ao lidar com o mundo: finge que não está vendo o que está vendo; finge que não está sentindo a dor que o outro está fingindo não sentir; finge sentir a dor que o outro não está sentido... A realidade é que a Poesia é sentir! Por isto mesmo, um poeta é impactado quando há um Sentir, seja ele qual for... A pura ilusão ou uma dor. E... muitas e muitas vezes (embora não pareça), apenas finge que não está percebendo o que o outro está fazendo, só para a alma humana "tocar'; provocar; 'lhe envolver nos braços', aninhar; apoiar ajudando a ver o que não está sendo considerado, abrigar, e a fazer acordar...

Mais que um fingidor, o poeta é ativo sonhador: aquele que 'sonha com coisas que ainda não foram'... Por que não?! Sonha, por instinto e essência (e isso ele não pode evitar) poder mostrar ao Homem que a vida é mais muito mais do que ele viu; mais muito mais que as dores que sentiu, muito mais do que as perdas... E porque sabe que a sua nobreza não está no exterior, e sim na grandeza e multiforme beleza, que está em sua origem e mora no seu interior; sonha mostrar o que dentro dele está, mais lindo que o sorriso de uma criança: o amor, a fé e a esperança!

Até para se notar a luz de um sorriso... Acordar é preciso!

Acordai...!

És a menina dos olhos do seu Criador!

És a maravilha da criação...

Em ti não foste dado um coração em vão!

Olhai!

És a grandeza! Não estás à toa nesta geração...

Vede o que ainda tens a fazer neste mundo...

Para quando retornares para casa,

Sejas alegria e honra para vosso Pai...