Dia de luz, festa do Sol

São esses sorrisos que justificam as estrelas, sim, tais espetáculos da natureza só conseguem ser justificados com fim de tarde ao pôr do Sol, e mais, ainda poder ver tais maravilhas conjuntas num ambiente nos fornecido de graça... Só o mar proporciona esse riso nas crianças, só as suas águas refletem com as tremulações corretas os nossos rostos, só a maresia oxida aquilo que deve ser degradado.

Agradar crianças é sim um grande prazer, e tudo se torna mais fácil quando esses seres tão inocentes do capitalismo eminente se realizam com algo que não precise de dinheiro, só necessita de espírito, até porque, não é todo dia que estamos com espírito para ser criança, visto a caracterização que temos diante das atividades dos pequeninos. Que somos manipuláveis é claro, que o fazemos é algo pouco comprovado, que amamos as crianças é óbvio.

Absorto em um feriado desses em que fui a praia, parei para observar as crianças, e sua relação entregue, plena, verdadeira, como consegui fugir de todas as distrações que o ambiente litorâneo me proporciona não sei, aqueles coqueiros e seus hidratantes naturais, aquela ainda rústica ornamentação das barracas de praia, suas bolas rolando pela areia... Ainda assim, consegui focar nas crianças.

A primeira atitude é se livrar de tudo que conecte-as a realidade, sim, o encontro com o mar é algo surreal, e tiram as sandálias dos mais variados temas da moda, tiram as camisas, e se deixam o mais leve possível, e são forçadas pelo puritanismo da sociedade a ficarem com algo no corpo, mas o que elas queriam mesmo era ficar nus, quem sabe tentar um contato tão íntimo como o dos índios... A mãe natureza. E se a sabedoria estiver nesse contato tão íntimo com a natureza? O próximo passo é uma admiração muda, ainda me pergunto se isso é fruto de um teste da conexão desses seres ou se, simplesmente, é uma primeira visão do paraíso, ambos os jeitos são contemplativos e mútuos.

O encontro com a criança representa para o mar uma nova vida, uma nova geração, esperança em forma de pureza. O amor é pelo simples é algo muito infantil, por isso algumas atitudes que fazemos são consideradas infantis, será? Fico incomodado pelo fato de não ter tido uma verdadeira iniciação ao mar, tal encontro merece uma cerimônia, nada luxuoso para manter os padrões exigidos, mas sim, algo espiritual, o primeiro banho de mar me deu medo, era criança, mas quando descobri suas marolas e quebradas, fiz-me íntimo. E que grande responsabilidade tem aqueles que ensinam os mais novos a nadar, é ensinar um legado, ensinar primeiro a respeitar os limites de um ente, aquele que tem suas vontades e revoltas, e depois, ensinar a manobrar e admirar aquilo que o mar pode oferecer.

E o quanto é necessário para causar felicidade a esses pequenos, um volume de água imensurável, areias quentes, vegetação típica... Nada disso é capaz de explicar tal encontro, talvez seja a imensidão, a sensação de poder nadar, nadar, nadar e não encontrar fim, ou seja, o que nós queremos desde novos é poder nadar sem arrecifes ou ondas, poder nadar com nossos próprios braços, porque ninguém gosta de boias, mesmo atestando seu caráter necessário. Ou quem sabe, as crianças veem no mar uma aproximação dos contos de fada, sim, só lá é que existem fenômenos que não precisam ser explicados, quantias que não precisamos contar e distâncias que não sabemos contar.

Ainda posso pensar que o mar representaria tudo aquilo que eu posso seguir, afinal de contas, o Universo pode ser sim, o fim do mar, onde posso ir, a liberdade, visto que nós, frutos de cárceres edificados como os prédios, sempre vemos limites, ouvimos alardes, somos obrigados a se preocupar... Quem sabe o mar não seria o oposto de tudo isso? Quem sabe nossos laços de religião fossem religados desse modo tão natural e árcade, e se formos apenas gotas d'água num oceano de lágrimas? Contento-me em dizer que não houve contribuições de crianças nesse oceano, seus sorrisos são respostas da verdade, seu comportamento justifica as verdadeiras vontades.

E hoje ainda posso me orgulhar de dizer que fui criança, e honro-me ainda mais em dizer que ainda sou uma criança, esbabacado fico ao ver o mar e seus ilimitados, peno por não ter tido uma maior conexão, mas juro que renitentemente ainda tento conectar sua imensidão ao meu sorriso, buscando entre nuvens contornos surreais, surfando em ondas que imagino controlar, caio a maioria das vezes, mas como quem não tem motivos para desistir, ajo como criança de novo, monto em minha prancha por aí, a ver navios, a chorar sorrisos, a contemplar mares.

Gabriel Amorim 11-03-2014