Amputaram meu braço esquerdo

“Nunca digas: Por que foram os dias passados melhores do que estes? Porque não provém da sabedoria esta pergunta.” Ecl 7; 10

Entender que o tempo pretérito tenha sido melhor parece uma coisa necessária, ao menos, se o cogito proceder de um sábio. Assim, se por um lado Salomão apresenta a eterna mesmice cíclica onde nada surpreende nas ações humanas no escopo moral, ( O que foi, isso é o que há de ser; e o que se fez, isso se fará; de modo que nada há de novo debaixo do sol. Há alguma coisa de que se possa dizer: Vê, isto é novo? Já foi nos séculos passados, que foram antes de nós. Cap 1; vs 9 e 10 ) por outro assevera que eventuais “novidades” são para baixo; acabam testificando a decadência da humanidade, de modo que a derrocada de valores, têmpera, acaba sendo a “ordem natural” das coisas.

Com essa reflexão corrobora a célebre estátua do sonho de Nabucodonosor interpretado por Daniel; lá também se vê a “evolução da espécie” ou, a progressão humana ao pano de fundo do tempo. Do ouro à prata, da prata ao bronze, do bronze ao ferro, e por fim, ao barro. Podemos figurar isso como um tiro disparado rumo a certo alvo que, mesmo fixo, acompanha o avanço do tempo. Uma imperícia mínima na mira inicial, redunda num erro cada vez maior; tanto quanto crescer a distância percorrida pelo projétil. Isso posto, sendo o alvo a atingir a “imagem e semelhança” Divina, quanto mais avança no tempo, mais o ser humano se distancia da meta.

A civilização acostumou a ver certo mérito nas mudanças, mesmo que o faça para pior; o conservadorismo é visto como retrógrado, quando não, preconceituoso. Embora esse gládio destro-canhestro tenha se originado nas coisas da política, acaba tendo muita ingerência nos valores morais, espirituais. Na França onde a nomeclatura teve origem se considera que a direita seria a postura da ordem; a esquerda, do movimento. Lato sensu, é o que se verifica no mundo todo.

Se tem os esquerdistas como liberais, progressistas, enquanto os opositores são os conservadores. Mudança ou continuidade não são em si, mérito nem demérito; é preciso verificar o quê se está conservando, ou para o quê se está mudando.

Acontece que as esquerdas latinas, sobretudo, são mudancistas extremas na política quando estão na oposição. Quem não lembra das greves gerais, invasões e tantas balbúrdias patrocinadas pelo PT no tempo do “fora FHC”? Agora que estão no poder há mais de uma década, “fazem o diabo” na linguagem presidencial, para seguir conservando o poder do qual tanto apregoavam a necessária alternância.

Seu mudancismo se reduziu às coisas morais, como a sexualidade alternativa, as famílias, o aborto, ainda não logrado embora buscado; o esbulho da propriedade privada, em favor de “índios” que há séculos já se misturaram a cultura vizinha, etc.

Outro dia, o MST botou pra quebrar contra a lei e ordem em Brasília, e descobriu-se que entre BNDS, Caixa e Petrobrás, eles receberam um milhão e duzentos mil de “incentivo” do Governo Federal. Ora, mas eles não estavam lá para protestar contra o Governo? Quer dizer que a Caixa que pediu a força policial para desocupação de imóveis do “Minha casa minha vida” em SP, patrocina invasões, e luta contra, ao mesmo tempo?

Aonde Gilberto Carvalho, homem que estimula isso pretende chegar? Achincalhar de vez a polícia para depois criar milícias partidárias como na Venezuela? Quem disse que o progresso, o crescimento econômico demandam a perversão da ordem? Aliás, nossa bandeira não os estampa lado a lado?

Sim, já acreditei e votei na nossa esquerda quando era oposição e fazia o discurso da alternância, da moralidade e da ética na política. Ela falava de modo tal, que parecia uma desejável alternativa à burguesia indiferente; mas, depois de algum tempo, além da incompetência gerencial visível, uma política externa que envergonha, pois, apoia ditaduras como Cuba e Venezuela, agora temos a desordem interna com patrocínio oficial.

Mesmo os ultra esquerdistas, PSOL, PSTU e PCO, que tanto barbarizam junto aos mascarados, gritam seus “Fora FIFA” como se essa tivesse se intrometido no país, ao invés de ter sido seduzida pelo governo do PT. Por que não gritam, fora PT? Porque seu objetivo é tumultuar, não, mudar. Estranhos ventos sopram na “Ilha de Vera Cruz”.

O que pareceu à princípio, alternativa à direita revelou-se alternativa à verdade. Bem conhecemos o jogo dos políticos que enfatizam uma ou duas ações meritórias para “justificar” um pacote todo, ainda que eivado de corrupção e toda sorte de vícios. Se esquerda é isso, acho que passo. Prefiro sofrer tal hemiplegia à mudar de algo ruim para outro extremamente pior.