SOBRE A TRANSITORIEDADE
SOBRE A TRANSITORIEDADE
É de fato ultrajante, como a vida zomba da gente, é digno de rir e de chorar! Ou vive-se, dando asas aos sentidos e fartando-se nos seios da “vida”, conseguindo então usufruir de alguns prazeres, sem contudo garantir uma proteção contra a transitoriedade; é-se então como um corpo sem vida da floresta, que hoje se orgulha de suas belezas nas cores da vida e amanhã jaz apodrecido. Ou nós então, tomamos uma posição de defesa, trancafiados num quarto, procurando erguer um monumento a essa vida passageira. Porém precisamos renunciar á vida; pois somos somente um instrumento, que está á serviço da transitoriedade; no isolamento de tudo isso perdemos a liberdade e a alegria de viver.
E essa vida terá então um único sentido, se fosse possível conseguir os dois, se a vida não fosse desnutrida por ser estéril! O que criamos, sem para isso pagar o preço desta própria vida? Viver, sem contudo renunciar a nobreza da criação. Não seria isso viável?
Talvez haja pessoas, ás quais isso fosse possível. Talvez haja maridos e pais de famílias, aos quais, acima da felicidade, não haja a perda dos prazeres sensuais? Talvez hajam solitários, aos quais, a falta da liberdade e do sustento, não estanque o coração. Talvez...
Parece que toda existência repousa sobre as duplicações e contrastes; ou se é homem, ou mulher; ou solitário; ou rico; ou violento; ou sensível. Em parte alguma poderemos experimentar ao mesmo tempo, prender e soltar a respiração, ser homem e ser mulher, experimentar a liberdade e a prisão, o materialismo e o espírito; sempre se fará uma em detrimento da outra, e uma sempre será tão importante, quanto a outra!
Nesse ponto, talvez fosse mais fácil para as mulheres. Nelas, a natureza age de tal maneira, que por si só, o prazer traz seu fruto e, das alegrias do amor origina-se o filho. Já no homem, em vez dessa frutificação tão simples, permanece sempre a saudade. Seria Deus que cria tudo isso, dessa maneira, mau ou hostil, zombaria Ele, morbidamente, da sua própria criação? Não, não pode ser mau, por que criou as estações do ano, cães e gatos, aves e insetos, peixes e etc... as florestas, as flores... Porém uma brecha se interpõe na sua criação: seria por falha incompleta e intencionalmente?
Será se precisamente por essa lacuna surgiu o pecado original? Ou Deus determinou os desígnos da humanidade na sua transitoriedade? E a beleza da criatura limita sua existência?