TRIVIAL.
Hoje não consigo escrever. Será esta, a angústia dos escritores, a tal síndrome da página em branco? Escrevo como medida sanativa, mas também por prazer e sinto-me preocupada, como se nunca mais fosse possível alinhar palavras com algum significado. Não faria mal a ninguém se deixasse de vez, porém em mim deixaria uma lacuna a mais. Talvez a resposta ao meu estio esteja na necessidade de escrever para exorcizar demônios internos. Meus desabafos escritos têm um poder de cura e os usei sempre.
Agora me pergunto: "-só consigo escrever com dor?"
"-Só sai da minha pena aflição?"
Não. Eu gosto de escrever e talvez se trate apenas da velha preguiça, assumida, como parte do que sou. Preciso de estímulos, necessito do prazer para exercer qualquer tarefa. Sem prazer, sou preguiçosa.
Outro provável motivo é a autocrítica. Não sou uma escritora profissional, mas o excesso de rigor comigo mesma me impede de criar. Fico almejando a lua e não valorizo a terra que me sustenta. Desejo o céu e não falo do mar que me é aprazível. Vivo de sonhos e não aprovo a realidade. Queria ser poeta e não me contento com meus parcos recursos literários.
Não posso esquecer outras inibições que me tolhem o ato de escrever. Há uma exposição do nosso íntimo em cada texto redigido. Falo com a experiência de leitora, que tenta adivinhar a alma do autor através de sua obra. Penso no inverso e assim me fecho. Não sou amarga ou triste, mas tenho meus dias de tempestade ou névoa e os exponho.
Sou mais que isso, contudo a paz de espírito não me estimula a escrever, e sim, a viver. Ah, mas eis um dia em que a esperança é a nota principal do bouquet de sensações. Hoje me sinto assim e prefiro manter comigo essa aura delicada, pois é feita do que está por vir e não convém espantar os pássaros que estão para visitar o meu jardim.
Deixei escapar um pouco de sentimento, mas não falarei mais deles, uma vez que o que predomina o meu dia não deve ser aventado. Também não quero falar no caos instalado nos aeroportos do País, ainda que tenha causado transtornos bem pertinho de mim; mesmo que a minha mãe tenha planejado há meses passar o seu aniversário em Gramado e que ao invés disso, esteja no aeroporto de Guarulhos sem saber a que horas decolará o vôo para Porto Alegre. Não. Não estou disposta a comentar, mas registro minha perplexidade: "O que está acontecendo nos céus do Brasil?".
Também não quero discorrer sobre os crimes passionais que ganharam as manchetes. Apenas lamento e não entendo o amor que destrói.
Enfim as emoções sempre me inspiram, mas hoje fico no trivial que também alimenta. Hoje sou feijão com arroz. Hoje sou mais comum e mais tranqüila. Hoje não quero descer aos porões e me mantenho aguardando na porta de entrada.
Dezembro,2006.