O dedão do Proctologista!

O incômodo já durava cerca de dois ou três meses. Ardia, doía, incomodava mais que dor de dente no verão, em plenas férias na praia. Bem, o incômodo era terrível, e o local dolorido não podia ser revelado para qualquer um. Imaginem uma dor que você não pode, ou não deve, por uma questão óbvia, contar para ninguém. Resolvi então procurar um proctologista e creio que, indicando a especialidade clínica, todos já podem imaginar onde era a maldita dor. Isso mesmo, nos confins, nos fins, “nos meios” do corpo humano, e como dizia meu pai, interiorano que era, a dor era no “buta”. Por sorte tenho um amigo de infância que é médico e assim me senti mais a vontade de confidenciar à ele a dor que sentia no buta. Liguei para ele e relatei o que sentia e, apesar da sua especialidade ser a obstetrícia, ajudou-me, indicando um colega proctologista no hospital onde fazia plantões. Consegui ainda fazer uma brincadeira com ele, não obstante a dor, dizendo que a sua especialidade era “bem próxima da do seu colega” pois ambas ficavam bem perto uma da outra, pelo menos no que diz respeito à anatomia do corpo humano. No dia seguinte lá estava eu no hospital todo sorridente ao encontrar com meu amigo que, prontamente, me levou ao encontro do seu colega, especialista em “butas” e adjacências. Após as apresentações, alertando que éramos amigos de infância, deixou-nos a sós para os exames. O médico fez algumas perguntas sobre o meu buta, enquanto localizava alguma sala disponível para a realização do exame que até aquele momento, eu não tinha a menor idéia de como seria. Abriu a porta de um consultório e entramos. Pediu para eu me sentasse em uma maca que alí estava. Enquanto conversava comigo, pegou um par de luvas cirúrgicas no armário e um pote com vaselina que estava no local. Pediu, gentilmente que tirasse minhas calças e deitasse na maca e virou-se de costas, abrindo o pote para o início do exame. Quando virou, eu estava deitado de barriga para cima, com as mãos entrelaçadas sobre o peito, aguardando o início dos “trabalhos”. Ele, gentilmente, com um sorrisinho nos lábios, solicitou que me virasse, que deitasse de bruços, ou seja, que deixasse o meu buta exposto, claro. Obedeci e deitei-me, desta vez, de bruços e coloquei as mãos entrelaçadas apoiando a minha cabeça nelas, numa posição ridícula de “gatinho”. Sabe como é?...Isso mesmo, a maldita posição de gatinho. Eu não sei quem estava mais sem graça, se eu ou o médico, haja vista ter percebido que eu não tinha a menor idéia do que ocorreria no exame. Chegou perto de mim dando uma batidinha na minha perna esquerda e pediu que eu a dobrasse. Ato contínuo bateu na outra perna, a direita, alertando o mesmo, o que fiz. Observei bem....e lá estava eu com o buta apontado para o teto! Pensei, não seria melhor ele ter mandado logo de cara eu ficar de quatro?...Pois bem, após expor meu buta daquela forma, ele falou quase que em tom angelical, que o exame era um pouco desconfortável mas que não demoraria muito, enfiando a mão direita no pote e pegando uma porção generosa da vaselina que alí estava. Lembrei-me na hora naquela piada em que o paciente reclama para o seu médico, ao fazer o exame de próstata, que deveria deixar as luzes do consultório a “meia-luz”, colocar uma musiquinha romântica, e dizer palavras carinhosas para que o exame não fosse tão traumático. Mas não deu tempo nem de terminar de pensar na piada e lá estava o médico com o dedo todo atolado no meu “buta”, dizendo, calma, vai acabar logo. Eu não entendi muito bem naquele momento, o que acabaria logo...se era o dedo....se era o meu buta...se era a vaselina. Com a outra mão apoiada nas minhas costas ele girava o dedo de um lado para o outro, procurando não sei o quê, ou melhor, nem queria saber o que ele procurava, só queria que aquilo, de verdade, terminasse logo. Após, para o médico, alguns segundos, e para mim algumas longas horas, ele retirou seu “dedão” do meu buta, entregando-me várias folhas de papel toalha, orientando-me que me limpasse, informando-me que o exame estava terminado. Iniciou uma conversa sobre o meu “buta” alertando que o que eu tinha era uma “fissura anal” e isso causava as dores. Caraca, ainda tive que ouvir o diagnóstico que, confesso, não entendi bem naquele momento. Eu tinha era uma “fissura” anal???. Receitou-me um óleo mineral para ser tomado e despediu-se de mim, sumindo pelos corredores do hospital. Confesso que nem tive coragem de despedir-me do meu amigo para agradecer-lhe a facilidade na consulta. Bem, também, não tinha, naquele momento, muitos motivos para agradecer-lhe. Saí do hospital e a sensação que tinha era que o médico tinha esquecido seu “dedão” no meu buta. Cada passo que dava, em direção ao estacionamento para pegar meu carro, olhava para trás para ver se o médico não estava alí, com seu dedão no meu “buta”. Abri o carro, sentei-me e a sensação foi que o dedão esquecido no exame, tinha atolado de vez no meu buta. Não fiquei tranquilo enquanto não me distanciei do hospital, com os vidros do carro fechados e as portas trancadas, olhando toda hora para trás, com a impressão que daria um flagrante do médico com o “dedão” no meu buta. Bem, brincadeiras à parte, hoje conto isso como uma crônica aos amigos e especialmente ao meu amigo médico e sempre com muita risada, mas que aquele proctologista tinha um “dedão” incompatível com a especialidade dele, isso tinha!