Onde pensam que ficava a capital do chá nos Açores?
Era na terra da Madre Teresa da Anunciada. A da Alvorada a São Pedro. A das sertãs de barro. A terra de São Pedro que muitos chamam de Ribeira Seca. Desde o princípio auspicioso do chá em 1870’s até ao fim suspeitoso da Barrosa em 1980’s, o Concelho da Ribeira Grande foi Rei e a Ribeira Seca Rainha.
Das 35 fábricas de chá conhecidas nos Açores, 21 ficavam na Ribeira Grande. O que equivale a dizer-se que, cerca de 62% das fábricas - pequenas e grandes -, até agora identificadas, localizavam-se na Ribeira Grande.
Mais ainda, mais da metade destas 21 fábricas, situavam-se na área do concelho da Ribeira Grande que corresponde à actual área da cidade da Ribeira Grande. E destas 12, 8, ou seja cerca de 60%, ficavam na Ribeira Seca.
Se quisermos descer ao pormenor, verificamos que cinco das oito fábricas da Ribeira Seca ficavam dispostas ao longo do caminho das terras de chá. Incluíam as ruas do Tornino de Baixo e de Cima e caminho da Barrosa. Duas, ficavam na continuidade de outro caminho de acesso fácil às terras de chá: na rua do Mourato. Uma outra na rua Direita de Baixo e outra na rua do Biscoito.
Era tal e tanto o interesse da Ribeira Grande pela cultura do chá a ponto de a única fábrica conhecida fora da ilha de São Miguel, situada na ilha do Faial, ser de um filho da Ribeira Grande. Caetano Moniz de Vasconcelos foi redactor e proprietário do jornal República Federal (1880-1888; primeiro jornal republicano da ilha), governador civil da Horta e de Ponta Delgada. E um dos fundadores da Sociedade Protectora dos Animais.
Uma outra fábrica, ainda na ilha de S. Miguel, em Nordeste, em Santo António Nordestinho, era do Padre Manuel Raposo: um homem da rua do Espírito Santo, da freguesia da Matriz da Estrela. O grande construtor da igreja de Santo António. Não sei bem como, mas segundo a minha avó, Maria Deodata Raposo Taveira, seria ainda meu primo afastado.
Os dois primeiros trabalhos científicos sobre o chá daqui, foram trabalhos da autoria de dois homens da Ribeira Grande: Cristóvão Moniz e Aníbal Ferreira Cabido.
Segundo este último, por volta de 1913, altura em que publica o seu trabalho, 80% da área total de chá cultivada nos Açores, ficava na Ribeira Grande. Assim não será nenhuma surpresa que, por volta de 1890’s, o padre Egas Moniz propusesse que se desse a uma rua da Conceição o nome de rua do Chazeiro.
Não constituirá ainda surpresa, verificar que, um dos quatro painéis identitários de azulejos do Salão Nobre da Câmara Municipal da Ribeira Grande, ofereça uma cena idealizada de apanha de chá. Ou que duas das propostas para brasão da Ribeira Grande, indicassem o chá como símbolo concelhio. Ou que, para desqualificar social e profissionalmente alguém, no vernáculo local, perdurem vocábulos como ‘rapaz do chá’.
Mário Moura