Coisas sérias são assim
Fui abordado de emergência pelo Pedro Monteiro ontem à noite, melhor dizendo e para sermos mais precisos o Pedro foi procurar-me e saiu à pressa por motivos pessoais sem ter sequer falado comigo. Mais tarde contactei-lhe já ia para as 10/ 11 da noite. Disse-lhe para não se preocupar que estava a pensar escrever algo sobre a Pontilha, algo para publicar. Aliás tenho aqui e ali escrito umas pequenas coisas, uns desabafos, sobre a Pontilha e conheço-a tal como qualquer vizinho nesta felizmente pequena e familiar comunidade conhece. Em 1983, quando regressei dos Estados Unidos, salvo erro, já havia um seu embrião, e ia ao clube da ‘costaneira’, até fui abordado pelo engenheiro Monteiro para avançar para seu Presidente, logo no início. Com muita, muita pena declinei o convite, pois estava a dar aulas em Nordeste. Ia à segunda e regressava ao sábado à tarde. Certamente o terá feito pela cooperação, quase secreta, quase tão só empatia, que havia entre os do Cadar e o engenheiro Monteiro. O reconhecimento do seu valor levou-nos a manifestar publicamente o nosso apoio apesar de ter sido proibido continuar a exercer o cargo de Presidente. Infelizmente. Só lhe prometi que ia fazer qualquer coisa.
20 anos na vida de um ser humano é muito, correspondem a pouco mais de 1/3 na esperança de vida para os homens e um pouco mais para as senhoras. Segundo as estatísticas. Bem entendido. Mas para a vida de uma instituição é pouco, dirão os que a compararem com os quatro séculos de vida da Santa Casa de Misericórdia da Ribeira Grande, ou o século e um quarto, pouco mais ou menos, da Associação dos Bombeiros da Ribeira Grande, ou do século do Lar para Jovens, Lar para a Terceira Idade. Ou dos cento e tais anos de fabulosa actividade da Sociedade de Instrução e de Recreio. Mas comparando-se com ou cerca de seis sete anos do mítico Círculo dos Amigos, ou dos dois anos do meteórico mas influente CADAR, a Pontilha é já uma instituição a caminho da plena maturidade.
Extinta a fabulosa Sociedade de Instrução e de Recreio desde há muito, infelizmente, dirão, retomada na década de sessenta por uma nova geração que pouco ou nada sabia desta última, com novas roupagens, acabou com o 25 de Abril, porém, neste mesmo Abril, a 10 de Junho outra geração levantou o ceptro: O Cadar. Para morrer no braseiro da fogueira das lutas de 1975. Falo como seu Primeiro Presidente. Mas só dizer isso seria esquecer as peculiaridades desta associação, por exemplo a Presidência era rotativa, todos o foram. E todos foram tudo. Queríamos quebrar com o elitismo do Círculo mas continuamos o que considerávamos válido: a bem dizer todo o resto. Menos de uma década depois, no rescaldo deste braseiro, nova geração e novo projecto. É esta a geração da PONTILHA. Ao contrário do selectivo, algo elitista Círculo, o CADAR abriu-se de par em par, sendo mais um movimento de base de juventude, rapazes e raparigas, estudantes, trabalhadores ou polidores de calçada, uma centena de gadelhudos e de gadelhudas com calças à boca de sino que se arrastavam pelas mesas do Café Paraíso, pelos bancos do Tabuleiro e estirava-se nos solários das Poças. A Pontilha apanhou os tempos de acalmia pós-25 de Novembro e tem sabido singrar.
A Pontilha é, qual lápis que se procura em todos os lados menos de trás da orelha, onde está à vista de todos, a associação certa para os próximos 20 anos, em meu entender. Em meu entender, repito, deveria dar um passo em frente: ou seja fazer além do que tem feito e faz hoje, neste momento, apostar na sede social de porta aberta. Para que? Tal como o fez a Sociedade de Instrução e Recreio, vulgo Recreativa, enquadrando as diversas gerações e diversas na sua maneira de sentir e de ver as coisas. A Pontilha, assim, seria as nossas Poças o ano inteiro. Para enquadrar os novos habitantes da Ribeira Grande que para cá vêm com o surto da construção civil, é o porto onde se acolhem os novos filhos da Ribeira Grande que ao contrário de outrora já não fica lá fora mas que precisa de sítios para estar. Assim se faz uma comunidade e bem carentes estamos disso.
A Pontilha tem sido o laboratório de muitas e livres experiências, desde o futebol de Salão, passando pelas feiras do livro pelas exposições, pelo teatro. Tem sido arauto da modernidade nesta Cidade que tarde a se aceitar e a se afirmar. Consegue congregar gente de todos os quadrantes unidos por projectos e deve continuar assim. Em meu entender.