DUAS NOVAS PALAVRAS...

Nasci e vivo na mesma cidade há quarenta e sete anos. Natural que conheça muita gente, que tenha vários amigos, estes, de perfis mais variados, de tipos tantos, inimagináveis.

Alguns pescadores, caçadores, outros mais contadores de estórias; outros importantes que comandam o Município e a Câmara há décadas, outros, novos e não menos importantes, outros intelectuais que convivem comigo na Academia de Letras e alguns verdadeiros artistas anônimos, mas que me fazem rir com gosto.

Dois destes começaram a laborarem juntos. Um simples e batalhador, mas que goza de prestígio e por isso tem um cargo político que ocupa com muito gosto e disposição não lhe falta para trabalhar. Sempre alegre e brincalhão e disposto a atender a todos. Mas a organização de papéis, compras e contas, não é o seu forte. Aí é que entrou o outro amigo meu.

Doutor formado, advogado de família, engomadinho, como lhe pede os bons costumes, foi ele atender na Secretaria do outro em meio período. E naquela pinta de galã, quando chegou, logo no primeiro dia, o outro, pra marcar território o chamou para uma conversa:

“olha, eu não tenho estudo nem nada; sou ruim com as letras, mas sei prestar um bom serviço, é por isso que passa anos e estou aqui, conheço cada metro da nossa zona rural, sei onde está cada mata-burro e cada ponte, e aqui, é melhor a gente não tentar aparecer não, é melhor ficar na moita, quieto, porque o povo não gosta de gente muito chique, muito sabido, a gente atende todo tipo de gente, então, se vem com roupa e palavreado chique o povo num gosta e não aceita, acha “INOPORTUNENTE”, entendeu?”.

E, meu amigo doutor que é inteligente e esperto, percebeu que estava levando uma reprimenda logo de cara, e que na verdade, “inoportunente” era a mistura de inoportuno com inconveniente, mas como boa gente que é, e rapaz bem humorado, também levou na brincadeira e entrou no clima do lugar, e saiu-se com essa:

“não, não esquenta não, você tá certinho, estamos aqui pra servir o povo e falar a mesma língua, comigo você não precisa se preocupar, porque eu também sou “PRECAVINIDO”, entendeu?”.

Eu disse: que isso precavinido? Enlouqueceu? – Ele, - não, não enlouqueci. É que ele jogou duas palavras em mim, inoportuno/inconveniente, e deu (inoportunente), eu não podia ficar por baixo e também mandei duas nele; precavido com prevenido, deu (precavinido!). E fim de papo.

IVAN CORRÊA
Enviado por IVAN CORRÊA em 14/12/2013
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