PSEUDO ALUNA
PSEUDO ALUNA
Lucarocas
Dentro do seu hipocritismo escolar, lá estava ela. Sem farda, sem interesse, sem tudo. Figuração buliçosa na ocupação da carteira, da vaga, já que seu nome constava na listagem um, entre sessenta e muitos daquela turma.
Dissimulação total, fingimento absurdo do entender, analfabetismo aparente. Falante de quando em vez, presente de vez em quando.
Trabalhava por conta, dizia. Que fazia, não declarava. Menos mal, trabalhava.
Noites de vindas à escola eram raras. Quando vinha, abuso frequente, deboche, descaso, falsa autoridade de quem não presenciava fatos. Saídas e entradas em sala, falação ao celular.
Antes, magra, esbelta. Agora um tanto cheinha. De certa beleza, não se é de negar. Pudica, impoluta dizia-se, embora não soubesse o que isso queria dizer.
Certa noite apareceu: braço roxo, olhos lacrimal. Justificou: a mãe a havia batido porque a encontrou conversando com um rapaz. Lógico, ninguém acreditou.
Noite vinda. Discussão com o professor, mostrou-se melindrosa, ofendida, vítima. Criou caso no acaso. Celular tocou, saiu para atender, conversou observando os gatos que sobraram do massacre da reforma. Entrou pegou as coisas, gracejou com o professor e saiu sem pedir licença. Havia arranjado um cliente, ia trabalhar aquela noite.