Minha sina...
Madrugada fria, uma imagem na minha memória. Um lapso talvez. Um whisky e um papel, minha pena predileta e o tinteiro a trasbordar de novo. Talvez mudar para minha máquina de escrever não seria uma boa ideia. Nostálgico, em punho minha pena, mergulhada no tinteiro, gritava em palavras escritas os anseios do meu coração. Talvez alucinado, outrora chegara em casa após afogar as mágoas na boemia... Um olhar distante, uma figura viva em pensamento.
Fechei meus olhos e relembrei do que me levou à tudo que sinto. A perfeição de uma encantadora flor, a mais bela. Um pássaro de voos magníficos, podendo voar mais alto. De repente eis que surgiu, sem explicação. [...]. Parece se repetir tal enredo, mas em cada gole deste drink um “por quê?” ecoa em minha mente. Nas mais diversas vezes busquei uma explicação e cada vez me confundia mais. Acometido por uma doença talvez, se amar for doença... Doente estou, esperando que meu remédio venha ao meu encontro e que, mesmo que o tempo tenha passado, faça-me entender que valeu a pena esperar. Uma doença tem tratamento, até a mais grave que seja. A reciprocidade de um amor verdadeiro faz esquecer a dor da carne e cura a dor da alma.
Medíocres aqueles que sucumbem por não amar, infelizes daqueles que fazem sofrer um ser que sente algo verdadeiro. O amor banalizado, o ser que banaliza tira daquele que somente ama a oportunidade da felicidade, por fazer de um coração, tapete, onde num dia de chuva se pisa, molha, suja e é deixado no chão, sentindo o frio de uma solidão doída. [...]. Infeliz de quem faz de um coração, tapete. Infelizes aqueles que não medem consequências para um prazer infame, medíocre.
Voltarei ao meu tinteiro, minha pena e meu papel, farei disto uma anestesia momentânea de uma dor incessante. Farei da vida mais vida, do amor mais amor, do futuro... Bem, do futuro só me resta fazer uma esperança. Esperança de que meu remédio chegue e cure-me a dor que assola meu viver. Enquanto isso minha sina: ora tinteiro, pena e papel, ora máquina de escrever...