o encontro do carro a 150 quilômetros e a família de bolivianos

Uma família de bolivianos segue de mãos dadas pela avenida em São Paulo.

Embora não seja um costume na Bolívia, aqui a família segue andando de mãos dadas.

Um bom costume brasileiro, entre tantos costumes que a família boliviana adquiriu em 7 anos vivendo aqui. Papai boliviano, mamãe boliviana e o menino Johnny seguem de mãos dadas, quase sorrindo.

Previdente o pai segue no contra fluxo.

Com uma mão segura forte a mão do menino, com a outra a mão da mulher. Na Bolívia, na região de onde vieram, não poderia andar de mãos dadas com a mulher: essa deveria andar atrás dele. Gosta do Brasil, acha legal as coisas aqui, legal poder andar de mãos dadas com a mulher.

O sol bate forte, ontem choveu e amanhã sabe-se lá o que vai acontecer.

A 150 quilômetros no carro esporte, após uma noite intensa de balada, volta para casa no Morumbi o jovem Pedrinho, que tem o mesmo nome do avô, e seguirá a mesma profissão desse: advogado.

Embora não escreva corretamente, assim diz o vovô, logo terá uma boa redação, o sangue e a prática, a técnica e o espírito, são coisas que vem do berço, dizem por aí.

Muito seguro, o Pedrinho. Extremamente confiante. Lutador de Aikido. Jogador de Polo, inclusive surfista.

Vangloria-se de poder ficar dias seguidos acordado ( o recorde é de 93 horas! mas fazia frio e ele estava numa estação de esqui...) Volta correndo para casa, pois é domingo e a visita mensal do vovô. O bate-papo na varanda, os aperitivos, as recomendações sobre os negócios, são coisas que Pedrinho não quer perder. Vai tomar um belo banho, recompor-se completamente e apresentar-se de forma mais que conveniente ao vovô.

Os bolivianos vão a feira, dos bolivianos, por supuesto, ou seja lá a forma como os bolivianos digam: vamos a feira é claro, hoje é domingo.

O jovem advogado volta para casa a 150 quilômetros, o carro pode muito, pode mais, e devemos dar as coisas, e as pessoas, aquilo que elas podem dar, é uma lógica muito corrente e bastante prática, assim diz o bom senso.

A família para por um instante. A cidade é feia, muito feia, mas agora o papai boliviano enxerga algo bonito. No carro Pedrinho, que tantas coisas bonitas já viu na vida, olha para o lado e também enxerga algo bonito.

O carro a 150 quilômetros, o jovem voltando semi bêbado da balada, a família andando na avenida, o Sol forte.

Ronco do motor e vento forte, tipo 150 quilômetros por hora. Balançar de roupas,nenhum tremor do carro. Sorriso dos bolivianos, sorriso de Pedrinho ao volante.

Tudo acabou bem, porque eu não gosto de finais tristes.