Vinho Tinto com Água
É possível que as pessoas não se deem conta disso. Mas os mesmos R$ 400 milhões economizados com o Horário de Verão, segundo as autoridades, foram desviados do Ministério do Trabalho, algo recentemente, num dos últimos escândalos de que se tem notícia. Algo assim como se trabalhássemos, ou economizássemos, para que outros se apropriassem indevidamente do dinheiro público. Fazendo com que trabalhemos de novo para que se dê a reposição.
Isso não é novidade para nós. Tempos atrás, na época em que era ministro da Saúde o Sr. Adib Jatene, foi criada a famigerada CPMF exatamente para cobrir abusos e desmandos com verbas públicas verificados naquela pasta. Irregularidades que não foram promovidas pela população. Depois, a tal da contribuição deixou de ser provisória e se tornou permanente, sem que os problemas da Saúde – como dos Transportes, da Habitação, do Trabalho, da Educação, etc. – fossem resolvidos. Era tão significativa a sua importância para o Governo, que o presidente Lula foi contrário à sua extinção, embora se manifestasse contra a CPMF antes de eleito.
Agora o deputado Rogério Carvalho, também do PT, é o relator de um processo que visa a instituição da CSS, uma espécie de réplica da CPMF, porque o Governo não pode ficar sem essa fonte de recursos. Que provêm do bolso do trabalhador. Como se não bastassem os escorchantes impostos de que somos vítimas e que fazem do Brasil um dos líderes mundiais na cobrança de tributos. E é exatamente o deputado Ronaldo Caiado, tradicional ruralista e hoje na oposição, que vem se colocar contra o restabelecimento da CPMF travestida de outro nome.
Isso tudo porque o Governo é estatizante, de tendência socialista, a presidente foi uma guerrilheira, o médico cubano que foi achincalhado mereceu homenagem do Governo, etc. Imagina se se tratasse de um governo de direita.
Na verdade o povo não se importa tanto com governos de tendência socialista ou direitista. O que importa, no frigir dos ovos, é não sermos obrigados a saldar dívidas que não contraímos. Ou que são devidas à incompetência das autoridades ou à gerência indevida ou criminosa dos recursos públicos.
Também não importa que a presidente tenha sido guerrilheira. Porque naquele momento negro da vida brasileira quem não estava com os que lutavam contra a ditadura não estava com o Brasil. Haverá quem discorde disso, mas é o que consideramos.
Só que a ditadura, pelo menos aparentemente, não nos assusta mais. E se agora os soldados saem dos quartéis para inibir ou amedrontar a população, ou para bloquear trechos de determinados logradouros públicos, isso se dá por ordem do Governo Federal. Que não é essencialmente militar. E que considerou de suma importância para o país, a julgar pelas medidas preventivas adotadas para a sua concretização, a realização do leilão do campo de Libra. Esquecendo-se de que, se era de fato muito auspicioso para todos nós, não haveria porque a população não devesse ser devidamente esclarecida.
Imaginamos que esses questionamentos pudessem ser feitos por aqueles talvez mais identificados, nos idos de 64, com uma tendência que nos custa a crer seja a que se verifica com os que estão hoje no poder.
Rio, 23/10/2013
Aluizio Rezende