DESPEDIR-SE

Ele não volta mais!

Quando nos despedimos, deixamos não apenas uma lembrança – seja boa, seja má. Deixamos também o alívio ou a saudade a quem, por conta da ocasião, nos partilhou o tempo e o espaço. A nossa ausência dará a quem fica uma nova impressão de quem somos. Aquele ‘eu’ estacionado na memória de quem comigo convivia está, agora, decepado da realidade acima de qualquer pescoço, merecerá coroa ou será guilhotinado, a depender unicamente do humor – ou da vontade – do interlocutor daqueles momentos. Possivelmente haverá alegria. Provavelmente me diagnosticarão das mais variadas maleitas. É certo que se algo lhe ficou emperrado no desperdício foi por conta de alguma negligência de minha parte. O tempo não foi feito para voltar. Por isso criamos a imaginação. Qual é a precisão das verdades que dizem de nós? Pois bem, o paradoxo do humano assume-se no humor ou na vontade da gente, fato que o sorriso da Gioconda jamais esteve preso à tela: sempre gritarão por nossa alegria aqueles que raramente precisaram de nós. E os que se apegam a nossa presença ausente – e nos colocam o mal na boca – são aqueles que mais necessitaram de nós. Mas nós não estamos mais. Carecem, entretanto, do ‘nós’ que ali esteve, de quem partilhou o espaço como haste de equilíbrio, afinal, está cada vez mais difícil se apoiar nesse mundo. Cada um de nós será outro de nós assim que a despedida chegar. Existe um ‘eu’ quando estamos, existe um ‘eu’ quando partimos. Ambos são distintos na impressão. O segundo Dom Pedro era mais velho do que o pai, no ideário popular. Dizer adeus será sempre perceber que não somos, cada um, a arte itinerante desejada: o que nos representa é o retrato que guardam de nós.