AS BERGAMOTAS DE CADA DIA
É costumeiro na entrada do outono, em minha cidade, os pés de bergamotas, em quintais, estarem arcados de tantas frutas. Não há como ficar alheio as “bolotas amarelas” que reluzem a luz do sol.
Diziam os antigos que as bergamotas dos quintais alheios, “são sempre mais doces,” o meu estava repleto. Mas as que estavam nos jardins alheios eram as que me interessavam, quando criança.
Certa tarde ao voltar para casa, deparei-me com meninos que saíram correndo da minha casa e atrás deles, minha vó. Pensando com meus botões, o porquê de tanta correria ao ouvirem o som do meu “fuscão vermelho”. Intrigada, resolvi tirar a dúvida. Os segui mesmo que o som do meu “fuscão vermelho” me denunciasse. Parti para minha caçada.
Ao fazer a curva da esquina de casa, de longe avistei minha vó de dedo empunhado diante dos olhos dos meninos. Os garotos sentados no meio fio, tranquilos e sem preocupações com minha presença. Parei o carro, saí e aproximei-me dos meninos. Perguntei a eles do por quê de tanta correria. De caras limpas responderam-me que não tinham nada a declarar. Em suas mãos não havia as “bolotas amarelas” como prova física do pequeno “delito” cometido. Mostraram-me suas mãos vazias, o que fazer então para tirar a prova.
Fiz o que a mim cabia fazer, cheirar suas mãos, pois o cheiro de bergamota sempre denuncia quem as chupou. O cheiro era inconfundível. Chuparam sim, minhas bergamotas, minhas “bolotas amarelas”.