QUANDO CASAR SARA
Quando criança achava engraçado e interessante, quando minha mãe dizia: “quando casar sara”. Essa frase se repetia toda vez que me machucava.
Para qualquer criança, numa época tão inocente esse comentário era como acreditar em Coelho da Páscoa e Papai Noel.
Mas numa manhã de domingo e de sol, eis que chega até mim – “a personagem Catapora” – chegou de mansinho, uma bolinha aqui, outra ali… uma febre branda… uma coceira até engraçada.
E quando dei por mim já tinha bolinhas de Catapora até dentro das orelhas, a coceira era insuportável, a febre já queimava minha têmpora.
Mesmo assim o incômodo da coceira, da febre e das bolinhas não era tão grande comparada à frustração de olhar pela janela e ver as outras crianças brincando e correndo pelos seus jardins. Toda aquela algazarra me deixava ainda mais deprimida.
No instante seguinte, gritei do quarto para minha mãe. Esta veio ao meu encontro, pedindo o que queria. E sem relutar disse a ela que queria me casar naquele dia mesmo, “preciso me casar”. Ela não conseguia entender qual o motivo desse desejo, me dizia “tá louca menina” “que história é essa de se casar”…
Eu olhando para ela sem entender o porquê de tenta gritaria. Meu único desejo era me casar, pois era ela mesma quem dizia “Quando você casar sara”. Eu só queria casar, e sarar daquelas bolinhas que coçavam muito. E depois correr lá fora e brincar pra valer. Não importava muito com quem, mas o benefício da frase que muitas vezes ouvi da boca de minha mãe: “quando casar sara”. Meu pensamento estava lá no jardim, nas brincadeiras e no barulho estridente das outras crianças.
Acabei não casando, acabei ficando alguns dias de molho. Meu único consolo, que ganhei duas companhias… meus irmãos.