João-de-barro

Disse a ela.

Não vá embora.

Nem te atrevas com outros pensamentos.

Não vou deixar você partir, nem por um segundo sequer. Longe daqui não conseguirás viver, nem em pensamentos. E suas lágrimas serão frequentes em teu rosto, elas encontrarão brevemente o chão. Os teus sorrisos amarelos e esquecidos, as tuas felicidades serão raras. Quantas são as alegrias que te ofereço, mesmo sem eu merecer? Então fique, fique aqui.

Eu a supliquei que não partistes, por muitos e muitos anos, pois, maior em mim era o medo de perdê-la. E ela amava-me quieta, sem dizer a essa vida. Um dia ela me ensinou que de repente, o amor não merece a solidão. O amor em silêncio é como o medo. É defeituoso, é incoerente. Amar em silêncio é como perder um dom divino, é não ensinar ao infeliz como é bom viver em alegria.

Talvez por besteira de ser um garoto mimado, mal educado exatamente por você, eu a prendi em meus sentimentos e você ficou nessa casa pelo resto da vida, e a vida ainda não passou. Fiz em termos e em horas a sua felicidade resplandecer.

Você sorria de manhã, ao pensar em meu bom dia, e dormia com a felicidade em teus sonhos, por estar ao meu lado. Era amor. Eu não sabia e nem você. Nem o mundo sabia o que era o amor: não passou! Nós o cultivamos, e o mundo ainda não aprendeu a amar.

Ainda pequenino e quieto, na contramão de todas as tentativas de acertar, eu fui incorreto com os teus trejeitos, pois, não os entendia. Quem me dera, agora, depois de velho, compreendesse tamanho sentimento que você demonstrava ao dizer que jamais me amou. As pétalas vazias da rosa que te dei e que foram jogadas ao vento, ainda me recordam a você.

Nunca se esqueça. Se um dia eu partir desse mundo e não te levar, compreenda tamanha generosidade, eu te prenderei dentro de mim, na casa do meu coração. Eu te cuidarei. Jamais vou te deixar, e nem ao menos deixar partir o teu amor. Em qualquer solidão sem fim, grite à tristeza o teu sentimento, e mude o teu semblante. Eu ainda estarei com você. Em teu esplendor, na tua face, em teus olhos, no teu futuro, na tua casa.

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Kallil Dib
Enviado por Kallil Dib em 05/11/2013
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