Tolerante demais...
Gostaria que minha primeira vez
tivesse sido por amor,
mas aprendi que não estava aqui para manter
a humanidade em pé.
Ninguém me disse
que no final o mundo é escuro.
A conclusão é que fui séria demais,
tolerante demais e
tarde demais mudei o destino...
Passei,
na vida, coisas que muita gente beirando seus quarenta anos ou mais sequer imaginou passar.
E coisa que muita mulher na minha idade nem sonha.
Desabrochei cedo,
e cedo entendi que a vida corre rápido demais.
E, por causa disso, quis tudo de uma vez, com sede de mais e mais, com medo de perder uma gotinha sequer deste “mel-fel” que é viver.
Que é a vida.
Virei mulher muito cedo no corpo, na mente e no coração – tanto que o tal orgulho foi descoberto precocemente, logo após a primeira paixão não correspondida (tão cedo!).
Sempre fui precoce, mas nunca fui romântica, e creio que isso tenha me poupado de sérios problemas e ao mesmo tempo me privado de algumas sensações que só as românticas têm.
Nunca fui de sentar e esperar as coisas passarem pra eu poder agarrar no tal “tempo certo” que,
cá pra nós, eu nem acho que exista,
embora tente mentalmente repetir este mantra pra mim,
que o tempo-certo-de-tudo existe,
e que as coisas chegam no momento exato em que devem chegar.
Só que o tempo certo para mim sempre foi hoje!
E sempre quis sorver tudo – paixões, amores, desamores, sorrisos, lágrimas, aventuras, tempestades e calmarias –, sem deixar nada para depois!
Pensem comigo...
Ocultamos nosso lado desagradável e atacamos a quem invejamos.
Quem nos ensinou a fazer isso?
Adão ou Eva?
Lembrem-se que o fato de uma briga
(guerra)
por domínio ou por adoração foi o problema principal
(ou não?).
A criação pagou o pato.
Foi acusada de ser a responsável pelo comportamento insensato e como castigo ao isolamento e a vergonha.
Ninguém nos protegeu,
sobre como eu nunca quis ser filha de um criador
que me enredou numa luta milenar e espiritual.
(Nem sei ao certo ainda o que é isso.).
Fui abandonada por quem tinha que amar acima de todas as coisas e de quem dependia todo o meu conhecimento sem poder me defender.
Cadê o meu advogado?
Em momentos estava feliz e nua,
descobrindo a mente e seus poderes e
em segundos conversando com uma serpente
(as cobras falavam),
eu era inocente,
e contrariei e irritei toda uma criação e ordem.
Fui tirada de meu equilíbrio e de um paraíso,
e ninguém foi capaz de impedir.
Poupem-me!
E de onde surgiu isso?
O diabo,
criado e filho do mesmo ser que me criou
a sua imagem e semelhança.
É para entender?
Entrei numa briga universal e milenar,
e minha tarefa é extremamente fácil;
SER BOA.
Tenho que ser boa!
Embora as Escrituras me lembrem que não há um só ser bom sobre a terra,
pois os pés se apressam a correr para o mal e o coração já nasce engodado por desejos nocivos...
Ufa!
E entendeu alguma coisa?
Eu sim!
Está me julgando!
Não está comigo e eu tenho que fazer tudo sozinha e isso não tem importância e
que eu vá para o inferno!
Estou condenada!
Não tem remédio!
Não há nada que eu possa fazer.
Sou imagem e semelhança.
De quem?
Lia Elemental