A beleza na morte.
Hoje, vi a visita da morte de perto.
Em frente ao meu trabalho para ser mais precisa.
Poderia ter sido apenas uma vida que se se cruzou com a minha.
Mas era minha paciente.
Apresentava várias comorbidades que já indicavam que seu óbito era iminente.
Possuía andar e fala prejudicados, mas era feliz e bem cuidada.
A visita mórbida evidenciou um semblante tranquilo.
Prestar meus sentimentos ao seu marido, só confirmou o meio de amor de sua vivência.
Sua gratidão era imensa pela assistência que a nossa equipe de saúde deu para sua amada em vida.
Era nítido o quanto aquele homem a amava e a cuidava.
Sempre ao seu lado, mesmo em meio as dificuldades da doença.
Seus olhos eram tristes pela dor da saudade e de sua boca só saia o mesmo sentido em repetidas palavras: ele nunca a deixaria de amar.
Mas saber que seu fim havia sido precedido de momentos de partilha simples de quem mesmo com dor expandia alegria...era conforto no meio daquela angústia sufocante.
O amor ali transcendia a matéria.
Ele sabia que compreender sua partida era o mais justo em meio a tanta dor física.
Demonstrações de amor assim fazem a gente ver beleza no meio do luto.
Que o fim também pode ser bonito.
Essa finitude leva a gente a refletir sobre nosso papel no mundo.
É interessante ver que quando andamos bagunçados, uma força maior sempre manda alguém para nos sacudir e desvendar nossas limitações.
São nossos anjos da guarda terrestres.
Dona Fulana foi sacudida por Seu Fulano e se foi feliz pelas pequenas vitórias que conseguiram juntos.
Foi em paz Dona Fulana, ficou em paz Seu Fulano.
E se renovou a minha fé no encanto da alma humana.
Admirável presente do dia dos médicos!